sábado, 28 de setembro de 2024

Plano de Ação garante segurança de brigadistas nos incêndios florestais

Por Paula Barcellos/Jornalista da Revista Emergência

Nesta semana, dois brigadistas morreram após serem cercados pelo fogo durante combate a incêndio florestal no sul do Piauí. Com a intensificação das queimadas e incêndios florestais por todo o país, é primordial que haja um alerta para a SST dos combatentes destes incêndios e para as técnicas corretas de atendimento. “Os incêndios florestais não são mais os mesmos. Os fatores climáticos têm influência direta no comportamento do fogo, o que, por sua vez, será o maior desafio dos combatentes. Estamos lidando com incêndios de alta energia, algumas vezes, até de sexta geração, onde a velocidade de propagação das chamas será superior à velocidade de qualquer ser humano e, às vezes, até de veículos. As estratégias são outras e as táticas também”, enfatiza Joao Godoi, pós-graduando em Prevenção e Combate a Incêndios Florestais.

MULTICAUSAIS

Marco Aurélio Nunes da Rocha, técnico em Segurança do Trabalho, especialista em Gestão de Emergências e Desastres, em Segurança contra Incêndio e Pânico e em Toxicologia e professor convidado das especializações de Engenharia de Incêndio e de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais da Faculdade Unyleya, diz que os acidentes com bombeiros e brigadistas envolvendo operações de controle de incêndios florestais são multicausais, ou seja, uma combinação de fatores de risco. Entre eles estão as condições ambientais. “Como direção e velocidade do vento, temperaturas extremamente altas, fumaça tóxica e visibilidade reduzida. Esses elementos podem aumentar o risco de queimaduras, inalação de fumaça, desorientação e até mesmo confinamento em áreas de risco”, cita Rocha.

Outro fator de risco, citado por ele, é que os incêndios florestais frequentemente ocorrem em áreas de difícil acesso, como vales, montanhas e florestas densas, onde é fácil se perder ou sofrer acidentes como quedas, escorregões, perfurações e cortes. “A execução de atividades fisicamente extenuantes pode levar à exaustão, resultando em erros de julgamento e favorecendo acidentes”, complementa Rocha.

A falta de treinamento também consta na lista das causas dos acidentes, de acordo com ele. “Em algumas regiões, os respondedores não recebem treinamento adequado para combater incêndios de grande porte de maneira segura e eficaz. A falta de treinamento específico e/ou ineficiente para operações de incêndio florestal pode levar a decisões erradas e ações ineficazes durante o combate ao fogo, simplesmente por falta de conhecimento técnico-científico”.

Entre os recursos, a ausência do uso do EPIs configura uma realidade presente nos acidentes, algumas vezes. “Durante as operações de combate a incêndios florestais, brigadistas e bombeiros podem cometer desvios que comprometem não só a eficácia do atendimento, mas também a segurança das operações. Um exemplo é a falta de uso de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). A não utilização de EPIs adequados, como respiradores, luvas, botas, capacetes e roupas resistentes ao fogo, aumenta o risco de ferimentos, queimaduras e exposição a substâncias tóxicas”, enumera Rocha.

A comunicação falha está entre as causas dos acidentes fatais também. “Uma das irregularidades que já resultou em mortes é a comunicação ineficiente. Problemas na comunicação entre as equipes podem resultar em falta de coordenação, aumentando o risco de acidentes e a propagação do incêndio. O mais crítico, porém, é o desrespeito aos protocolos de segurança e/ou procedimentos operacionais. Ignorar ou não seguir os protocolos e procedimentos estabelecidos pode colocar em risco a vida dos respondedores e das pessoas nas áreas impactadas”, alerta o professor.

Rocha lembra que nem sempre os fatores de risco causam efeitos imediatos. “Não podemos esquecer que as jornadas prolongadas de trabalho e a privação de sono durante esse tipo de combate, associadas à pressão constante e ao perigo iminente, podem causar transtornos mentais, como estresse pós-traumático, tornando essas operações extremamente desafiadoras e perigosas” diz.

Por fim, ele revela como causa dos acidentes com este público, a subestimação do perigo. “Menosprezar a intensidade e a velocidade de propagação do fogo pode levar a situações perigosas e difíceis de controlar e evadir”, afirma.

SOLUÇÕES

Para Godoi, o fogo não mata combatentes, as más decisões é que matam. É imprescindível, diz ele, ter um plano de ação que contemple primeiramente a segurança dos combatentes, com comunicação, rota de fuga e zona de segurança, além de uma equipe para responder às situações de emergências médicas e resgate. “Também atuar sempre em equipes, com, no mínimo, três pessoas e realizar as análises de riscos criteriosamente”, cita.

Rocha completa que as irregularidades podem ser mitigadas com treinamento contínuo e adequado, uso correto dos EPIs, manutenção periódica dos equipamentos, comunicação eficiente entre as equipes e, sobretudo, através da disciplina operacional, que consiste em todos seguirem os procedimentos e protocolos estabelecidos durante todas as fases de controle dos incêndios florestais. Veja no quadro elaborado pelo professor como evitar os acidentes neste setor. “Essas medidas são essenciais para criar um ambiente de trabalho seguro e eficiente, permitindo que os respondentes atuem de maneira eficaz no combate aos incêndios florestais”, destaca.

REQUISITOS IMPORTANTES PARA O ATENDIMENTO DE FORMA SEGURA

Para garantir a segurança e a eficácia no combate a incêndios florestais, é essencial a elaboração, implementação e cumprimento de requisitos, procedimentos e protocolos de segurança, tais como:

  • Utilização de EPIs adequados: roupas resistentes ao fogo, capacetes, luvas, botas e respiradores (máscaras) são fundamentais para proteger os respondentes contra queimaduras, inalação de fumaça e outros riscos ocupacionais.
  • Treinamento e capacitação contínua: as equipes devem receber treinamento contínuo e específico sobre técnicas de combate a incêndios florestais, uso de equipamentos e procedimentos de segurança.
  • Planejamento e coordenação: é vital ter um plano de ação bem definido, com uma clara divisão de tarefas e uma comunicação eficiente entre todas as equipes envolvidas. A utilização de um sistema padronizado de gerenciamento de incidentes e emergências tais como o SCI (Sistema de Comando de Incidentes) facilita a organização e coordenação da resposta, respeitando as diferentes complexidades e graus de risco.
  • Tecnologias de monitoramento e acompanhamento: a utilização de VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados) e satélites permitem avaliar a extensão dos incêndios e planejar as ações de combate de forma mais eficaz, incluindo o deslocamento das equipes para as áreas de interesse e sua retirada de áreas de risco.
  • Emprego de recursos adequados: viaturas, aeronaves, equipamentos e ferramentas específicas para o combate a incêndios florestais, além de aditivos para água, como retardantes, umectantes, espumas e polímeros hidrorretentores, são essenciais para aumentar a eficácia das operações, permitindo que os respondentes controlem o fogo de maneira mais rápida, eficiente e segura.
  • Atendimento aos procedimentos e protocolos de segurança: manter uma distância segura do fogo, evitar acessar áreas de risco elevado e ter rotas de escape alternativas bem definidas são práticas cruciais. É fundamental que os brigadistas e bombeiros recebam orientações e treinamento adequado e tenham acesso a equipamentos de proteção e combate para garantir sua segurança e melhorar a eficácia das operações.

FONTE: MARCO AURÉLIO ROCHA


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