Denis Barbosa, CEO Global da Instramed | Crédito: Divulgação

Por 360° Comunicação Integrada

A morte de uma fã durante o show da cantora Taylor Swift, no Rio de Janeiro, e outro recente incidente envolvendo a influenciadora Jenny Miranda, no litoral de São Paulo, destacam uma preocupação crítica sobre a prontidão dos nossos espaços públicos para emergências. Estes e outros milhares de casos nos fazem questionar se realmente estamos preparados para lidar com situações de vida ou morte.

Imagine-se, por exemplo, caminhando na praia, em um shopping, assistindo a um jogo em um estádio ou esperando um voo no aeroporto e, de repente, alguém ao seu lado sofre uma parada cardíaca. O que você faria? Essa é uma realidade mais comum do que pensamos, e a diferença entre a vida e a morte pode estar a alguns passos de distância, na forma de um Desfibriladores Externos Automáticos (DEA), por exemplo.

Dados da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac) revelam que mais de 95% das mortes súbitas ocorrem fora do ambiente hospitalar. A entidade científica também aponta que a rápida desfibrilação e o suporte básico de vida podem aumentar a taxa de sobrevida em longo prazo. Em casos em que o acesso aos desfibriladores ocorre entre cinco a sete minutos após a parada cardíaca, a sobrevida é maior que 50%.

Além disso, a parada cardíaca tem sucesso na recuperação quando são realizadas manobras de ressuscitação cardiopulmonar imediatamente. Com o uso do DEA, o índice de sucesso depende diretamente do tempo transcorrido entre o pedido de socorro e a desfibrilação, diminuindo cerca de 10% a cada minuto de atraso.

Organizações de saúde globais, como a American Heart Association (AHA), o European Resuscitation Council (ERC), a International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR) e a própria Organização Mundial da Saúde (OMS), também enfatizam a necessidade de disponibilizar DEAs em locais de grande circulação e treinar a população para seu uso. Essas diretrizes internacionais destacam a importância de uma abordagem integrada, que inclui não apenas a disponibilização dos equipamentos, mas também o treinamento adequado e a manutenção regular.

No Brasil, a realidade ainda está longe do ideal. Muitos espaços públicos e privados não contam com DEAs, e mesmo onde eles estão presentes, nem sempre há pessoas treinadas para utilizá-los. Além disso, a falta de uma legislação federal específica para regular a presença desses equipamentos em locais de grande circulação deixa uma lacuna na nossa capacidade de responder a emergências cardíacas.

Uma iniciativa para aprimorar a resposta a emergências cardíacas no Brasil teve início em 2003 com a apresentação do Projeto de Lei do Senado nº 344, cujo objetivo era definir diretrizes para a disponibilização de DEAs em locais estratégicos, como aeroportos, estações de trem, shopping centers e instalações esportivas. Ao longo de sua tramitação, o projeto gerou debates e discussões significativas sobre a saúde pública e a segurança dos cidadãos. Especialistas em saúde, legisladores e a sociedade civil contribuíram com insights valiosos, ressaltando a necessidade de tornar os equipamentos acessíveis em locais públicos.

Após passar por várias comissões no Congresso Nacional, o projeto foi finalmente aprovado em agosto de 2016. Por mais de seis anos ele aguardou a chamada “inclusão em Ordem do Dia” no Senado Federal, etapa que antecede a remessa à sanção presidencial. Contudo, no final de 2022, a proposta foi arquivada devido ao término da legislatura, resultando no descarte de quase duas décadas de esforços de inúmeros parlamentares.

A parada cardíaca súbita não escolhe hora nem lugar. Ela pode acontecer com qualquer um, em qualquer momento. Por isso, é essencial que estejamos preparados. O verdadeiro desafio reside não apenas em equipar nossos espaços públicos com a tecnologia necessária, mas também em assegurar a existência de um plano de ação eficiente, pessoas adequadamente treinadas para lidar com emergências cardíacas e uma legislação robusta, acompanhada de uma fiscalização rigorosa.

Ao refletirmos sobre esses casos recentes, enfrentamos um verdadeiro “choque de realidade”. Mais do que nunca, é essencial avançarmos além da mera conscientização e partirmos para ações concretas. Precisamos de uma mudança de paradigma que priorize a saúde e a segurança da população, assegurando que, a exemplo do que ocorre em muitos países desenvolvidos, nossos espaços públicos estejam preparados para responder a emergências cardíacas.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
CAPTCHA user score failed. Please contact us!