sábado, 29 de junho de 2024

Artigo: Mercúrio, de novo – Ed. 152

Caso complexo de contaminação por mercúrio alerta sobre a importância do preparo dos órgãos públicos municipais e estaduais para lidar com situações semelhantes

Já apresentei nessa coluna alguns casos envolvendo a contaminação de pessoas e do meio ambiente devido ao desconhecimento dos perigos e riscos do produto associado à manipulação indevida. Todo ano, ocorrem alguns casos de intoxicação severa por mercúrio metálico no estado de São Paulo. Infelizmente, terminamos 2023 e começamos 2024 com mais um caso que apresentarei a seguir.

CASO
No final de dezembro de 2023, o Hospital das Clínicas da Unicamp, em Campinas/SP, onde funciona o CIATox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Campinas), recebeu um homem de 30 anos, levado pelo irmão, que apresentava alterações comportamentais, com piora após o Natal.

O irmão relatou ao médico que desde setembro de 2023 o paciente havia comprado, pela internet, alguns sensores com mercúrio metálico, havia feito a extração do mercúrio, armazenou o produto em um pote e tentava extrair ouro de placas de circuitos eletrônicos.

O paciente morava com os pais e com o irmão, ocorrendo derrame de mercúrio no quarto que ele ocupava. Ele também inalou o produto durante as dezenas de tentativas de extração de ouro das placas de circuitos eletrônicos por meio do mercúrio. Para piorar o quadro, ele levou o mercúrio para uma casa que ele havia alugado e para o apartamento dos tios (onde houve derrame de mercúrio sobre uma mesa/toalha), todos os locais em Campinas.

O paciente apresentava confusão mental, alucinações, distúrbios de comportamento, lentificação de pensamentos, esquecimento e insônia, chegando a passar muitas noites em claro. O paciente relatava que cães, gatos e maritacas costumavam falar com ele, assim como o vento e a terra. Após o Natal, os pais do paciente viajaram para a cidade de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, e o paciente foi encontrá-los. No sítio em que estavam o paciente matou um porco, tirou sua cabeça e a enterrou. Disse que estava fazendo pela paz do Brasil. O paciente sempre levava o mercúrio em uma pochete que ficava dentro de uma mochila, a qual foi abandonada na delegacia de Três Lagoas.

INSPEÇÃO
Diante desse quadro, Vigilância Sanitária do Estado e do Município, Defesa Civil do Município e o órgão ambiental estadual inspecionaram as residências por onde o paciente havia estado com a mochila, utilizando para tal três monitores de vapores de mercúrio metálico e Nível C de proteção.

Adotou-se o valor de cinco microgramas/m3 como referência para que o item monitorado pudesse ser considerado seguro, ou seja, qualquer item com concentração acima desse valor seria considerado contaminado e deveria ser removido e dada destinação adequada. Itens com concentrações inferiores poderiam ser utilizados normalmente pelos moradores, após procedimentos de aquecimento e ventilação para eliminação de vapores de mercúrio metálico.


Autor:

Edson Haddad – Químico MSc e membro da Comissão Nacional do P2R2
[email protected]


Confira o artigo completo na edição de mai/jul/2024 da Revista Emergência.

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