Crédito: Beto Soares/Estúdio Boom

Os benefícios da aplicação das diretrizes da Restrição de Movimento de Coluna no APH para pacientes e sistema de saúde

A padronização do atendimento ao politraumatizado foi estabelecida após um acidente ocorrido com a família do médico ortopedista James Styner, em Nebraska/EUA, em 1976. Sua esposa morreu instantaneamente e seus filhos tiveram traumas variados considerados de leve a grave, incluindo o próprio Styner que, assistindo àquele atendimento, percebeu o despreparo das equipes de APH (Atendimento Pré-Hospitalar). Styner viu que havia uma necessidade urgente de um protocolo mais específico, lembra D. Damiani.

O uso de técnicas e dispositivos para imobilização da coluna vertebral ocorre desde os anos 60. Em 1971, a Academia Americana de Ortopedistas publicou um dos primeiros livros para paramédicos abordando o cuidado de vítimas com suspeita de lesão espinhal, pautando-se apenas no mecanismo de lesão, com a recomendação de que, na dúvida, se deveria imobilizar o indivíduo. A partir da década de 80, estudos têm demonstrado a impossibilidade técnica de imobilização total da coluna, o não benefício e até o possível malefício dos equipamentos, dizem L. Certain e R. R. N. Ferraz.

Trauma

Anualmente, 5,8 milhões de pessoas morrem por trauma em todo o mundo, 32% a mais que a soma das mortes por malária, AIDS e tuberculose. A mortalidade por trauma corresponde a 10% de todas as causas de morte e, sem as devidas intervenções, prevê-se que esta proporção aumentará até 2030. A maior parte dos traumas ocorre entre pessoas de 5 a 44 anos; suas consequências constituem forte preocupação na área de saúde. No Brasil, conforme a OMS, lesões causadas pelo trânsito representam uma taxa de 22,3 óbitos por 100 mil habitantes, registrada em 2010. Apesar disso, a incidência de lesões vertebromedulares é baixa, estimada em 21 casos/milhão de pessoas ao ano, citam Certain e Ferraz.

I. G. Stiell et al. explicam que a maioria das vítimas de trauma é submetida ao uso de prancha rígida, colar cervical e de headblocks, procedimento conhecido como IET (Imobilização Espinhal Tradicional), mesmo que não haja sintomas em nível cervical. O uso do colar, supostamente, traz uma segurança ao paciente; evidências atuais, no entanto, provam que, muitas vezes, ele não traz benefício como também agrava lesões intracranianas, alerta Damiani. Para Stanton D. et al., enquanto o manejo de uma potencial lesão espinhal é importante, as intervenções tomadas não deveriam causar efeitos adversos e deterioração da condição do paciente.

Até pouco tempo, acreditava-se que a IET limitava os movimentos da coluna e protegia os pacientes de lesões medulares secundárias; porém, mais recentemente, diversos estudos demonstraram que o uso de prancha rígida e headblocks não é mais recomendado como rotina no APH. Alternativamente à IET, recomenda-se que os pacientes sejam tratados por uma técnica chamada de RMC (Restrição de Movimento da Coluna). A justificativa para a alteração deriva de evidências que demonstram complicações potenciais com a aplicação da IET, relatam E. E. Swartz et al.

Sendo assim, de acordo com I. G. Stiell et al., criaram-se duas ferramentas de decisão clínica integrantes da RMC, na intenção de permitir maior rapidez na avaliação de lesão cervical, maior ordenação seletiva da radiografia de coluna cervical e uma economia substancial para o sistema de saúde: o CCR (Canadian C-Spine Rule) e o NLC (National Emergency X-Radiography Utilization Study (NEXUS) Low-Risk Criteria). Ambas são derivadas de pesquisas originais e definidas como instrumentos de decisão que englobam três ou mais variáveis a partir da anamnese e do exame físico.


Autores:

Beatriz Galhano de Biasi – Médica formada pela Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
[email protected]

André Luís Gonçalves Montillo – Especialista em Traumatologia e Ortopedia; professor de Ortopedia da Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade Federal do Estado Rio de Janeiro
[email protected]


Confira o artigo completo na edição de fev/abr/23 da Revista Emergência.

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