Crédito: Andrea Booher/ FEMA

Quase uma década após os ataques terroristas de 11 de setembro, em Nova York, os profissionais que atuaram como socorristas no Ponto Zero ainda estão lutando com as doenças que ad­quiriram. Durante uma audiência, em 29 de junho, perante a Comissão do Senado para assuntos de Saúde, Educação, Trabalho e Pensões, o senador, Tom Harkin, afirmou que milhares de socorristas que trabalha­ram no World Trade Center foram expostos a uma “infusão tóxica” de gases e partículas. Após os ataques, o governo criou programas para atender às várias necessidades dos resgatistas e socorristas, mas o senador disse que estes esforços podem não ter sido suficientes. “Nós estamos aprendendo que os males à saúde causados pelo desastre de 11 setembro são muito mais extensos e a­brangentes do que muitas pessoas inicialmente pensavam,” disse Harkin, presidente da ­Comissão.

Doença crônica

Um estudo publicado no “New England Journal of Medicine” (vol. 362, nº 14) sugere que os bombeiros que trabalharam nos ataques ao World Trade Center sofreram danos pulmonares mais graves do que os outros bombeiros. Dos quase 13 mil bombeiros e socorristas que trabalharam no local do WTC, a maioria apresentou uma grave e persistente degeneração de suas funções pulmonares, após os ataques, de acordo com os pesquisadores do Albert Einstein College of Medicine of Yeshiva University, de Nova York. Os profissionais de resgate que atuaram no WTC não apresentaram até hoje sinais de recuperação significativos de suas funções pulmonares, em comparação com os danos pulmonares típicos dos bombeiros. Segundo os pesquisadores, as causas são a natureza incomum da nuvem de poeira do WTC e o tempo de exposição.

Outro estudo, publicado na internet em 18 de maio no jornal Environmental Health Perspective, revelou que 22% dos profissionais e voluntários que atuaram no local do WTC apresentaram redução da sensibilidade olfativa, dois anos após os ataques. Um outro estudo conduzido por um instituto científico independente da Filadélfia, o Monell Chemical Senses Center, também revelou que 75% dos profissionais e voluntários apresen­taram redução na capacidade de detectar substâncias irritantes. A maioria destas pessoas estava consciente dos danos que so­freu.

De acordo com Pamela Dalton, chefe do estudo e psicóloga ambiental do Instituto Monell, o olfato é essencial para a saúde e segurança do ser humano, considerando-se que este sentido pode ser a primeira linha de defesa contra substâncias químicas tra­zidas pelo ar.

Atenção aos doentes

Segundo John Howard, diretor do NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Health) e coordenador do Departamento de Saúde dos Trabalhadores, até março de 2010, 52.667 socorristas se inscreveram no Programa de Saúde do WTC. Este programa é realizado por meio de vários centros clínicos que cadastram os interessados, fazem a triagem clínica e mental e o tratamento dos pacientes.

De acordo com David Prezant, chefe do Departamento Médico do Corpo de Bombeiros de Nova York e co-autor do estudo da Yeshiva University, os pacientes com sintomas crônicos relacionados à exposição aos resíduos do WTC necessitam de cuidados prolongados – algo que não é possível com a estrutura vigente dos programas que oferecem o tratamento.

Prezant também é co-diretor do Programa de Tratamento e Monitoramento Mé­dico dos Bombeiros que trabalharam no WTC, um programa de 35 milhões de dólares que oferece monitoramento e tratamento aos so­corristas expostos aos escombros do WTC. O programa ofereceu tratamento a mais de 7.000 pacientes, num período de um ano, e realizará mais de 10 mil exames de mo­nitoramento até o final de 2010. No entanto, as dificuldades para angariar fundos podem ameaçar o tratamento, relatou Pre­zant aos senadores, na audiência de 29 de junho.

“Sem um fluxo contínuo de recursos, teremos que interromper os serviços clínicos até o final da primavera ou início do verão de 2011”, afirmou Prezant. “É evidente que precisamos de uma solução de longo ­prazo.”

A senadora Kirsten Gillibrand garantiu que a legislação que ela apresentou no ano pas­sado solucionaria o problema. Se aprova­da, a Lei James Zadroga de Indenização, de 2009, paga às vítimas do ataque ao WTC da­­ria origem a um programa de saúde transpa­rente e de longo prazo, administrado por ter­­ceiros para estabelecer custos, monitorar as despesas e criar os requisitos para qualificação. Uma versão da Câmara dos Deputados não conseguiu obter a maioria de 2/3 ne­­cessária para aprovação, na votação de 29 de julho.

Martin Fullam, um socorrista que trabalhou em 11 de setembro, relatou à Comissão do Senado sua luta diária contra a doença au­toimune contraída após os ataques e expressou o seu apoio a “qualquer legislação que garanta” auxílio médico aos socor­ristas que trabalharam no WTC.

“Eu rezo para que os membros desta casa, que têm a oportunidade de aprovar uma legislação que atenda aos doentes remanescentes, se sensibilizem ao apelo e aprovem uma legislação, que nos permita viver da melhor maneira possível, sem as preocupações adicionais criadas pelas dificuldades financeiras e as despesas médicas”. Fullam acrescentou: “Nós socorremos aqueles que precisavam e estamos contando com vocês para fazer o mesmo.”

Indenização depende de acordo

Muitos dos socorristas que atuaram no 11 de setembro, que ficaram doentes poderão receber indenização, se for aprovado um acordo. Em junho, um juiz da Corte Distrital do Sul de Nova York – que abrange Manhattan – assinou um acordo que concede 716 milhões de dólares aos requerentes habilitados, que trabalharam no socorro após os ataques ao WTC. A administração da cidade de Nova York também foi incluída entre os réus da ação.

Segundo o acordo, os trabalhadores que estão doentes ou temem adoecer devido à exposição durante os trabalhos no WTC receberiam parte da quantia estipulada no acordo, fundamentada na gravidade de suas condições de saúde. O acordo será considerado pronto quando receber aprovação de 95% dos autores da ação, mas com uma condição: uma vez aceito, o valor acordado nunca poderá ser aumentado e estes fundos serão concedidos apenas aos requerentes habilitados, que assinaram como autores da ação.

Sequelas dos profissionais

Resgatistas e outros profissionais que trabalharam no rescaldo do World Trade Center, após os ataques de 11 de setembro apresentaram três sequelas principais:

  • Síndrome do estresse pós-traumático.
  • Males que acometem as vias respiratórias superiores e inferiores.
  • Males que acometem o sistema gastrointestinal superior.

Fonte: World Trade Center Programs, Department of Health and Human Services


Esta é uma tradução do artigo original The lingering sick, de autoria de Kyle W. Morrison, publicado, originalmente, na Revista Safety & Health, do National Safety Council, em setembro de 2010. A tradução é de Randal Fonseca, editor/tradutor dos livros do National Safety Council no Brasil.

Este artigo não tem fins comerciais. Foi reproduzido com finalidade e propósito exclusivamente educacional.

Para saber mais, acesse www.nsc.org/plus para ouvir e ler o Ato James Zadroga 9/11, sobre Saúde e Compensações de 2009, no Plus HELP Committee do dia 29 de junho.

Todos os direitos reservados ao National Safety Council – www.nsc.org

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