Crédito: Cabuscaa/Shutterstock

Os pontos importantes para uma investigação completa sobre as causas das ocorrências

Certa vez perguntei a um bombeiro como se fazia uma perícia de incêndio. Ele me respondeu: “é um trabalho semelhante ao do gari, no qual você coleta tudo o que sobrou do incêndio e, posteriormente analisa este material.” Didaticamente, a perícia de incêndio tem por objetivo aclarar os fatores e circunstâncias que proporcionaram o surgimento, o desenvolvimento e a extinção do incêndio. A função da investigação de incêndio não se limita a afirmar se foi criminoso ou não; mas vai além, muito além… Inclusive pode ser capaz de identificar se o defeito de fabricação em um determinado produto originou o incêndio, como no caso de componentes elétricos.

A investigação se inicia durante a ocorrência do incêndio. No caso da perícia que é determinada após a ocorrência do incêndio, muitos elementos se perdem. Em uma perícia, a preservação da cena é fundamental a fim de que se tenha um fato a observar. No caso do incêndio, a grande maioria das provas foram perdidas em razão de sua queima.

De forma geral, uma perícia de incêndio se compõe de várias ações: coleta de informações, coleta de amostras para análise, escavação dos escombros, inspeção das instalações elétricas, registro fotográfico, inspeção visual das áreas atingidas e adjacentes, reconstituição da cena (com os escombros e com os materiais não queimados) e verificação da existência de múltiplos focos.

A perícia é iniciada com entrevistas ou oitiva de testemunhas. Na sequência é realizado o exame da cena do incêndio para buscar elementos que possam trazer informações úteis. É claro que todas as informações obtidas devem possuir coerência entre si, mesmo porque o testemunho não pode dizer algo que é contrariado pelas análises laboratoriais. Finalmente, determinados materiais encontrados na cena do incêndio são enviados para o laboratório para serem testados ou ensaiados.

Durante o incêndio é possível ouvir testemunhas, bem como entrevistar os bombeiros que participaram do combate. Imediatamente após a extinção do incêndio é um ótimo momento para início da investigação, vez que a cena está totalmente preservada. Pena que na maioria dos casos, somente após o rescaldo é que a investigação de fato é iniciada.

A fase investigativa ou pericial busca as causas de surgimento do incêndio, a ocorrência de propagação, surgimento de vítimas e eventuais prejuízos, por meio de avaliação do local do sinistro, indícios e vestígios.

Fases do Incêndio

O processo de queima em um incêndio ocorre em fases definidas. Reconhecendo as diferentes fases, é possível compreender melhor todo o desenvolvimento. As fases do incêndio são: inicial, crescente, totalmente desenvolvida e final.

A fase inicial se inicia após a ignição de algum material combustível, sendo que o combustível e o oxigênio presentes no ambiente são abundantes. A temperatura permanece baixa em um espaço de tempo maior até que ocorra a eclosão do incêndio.

A fase crescente abrange a incubação do incêndio. O volume das chamas aumenta e a concentração de oxigênio começa a baixar para 20%. Ocorre um aumento exponencial na liberação de calor em curto período de tempo, produzindo pirólise dos materiais e aumento da temperatura de 50ºC para 800ºC, em curto espaço de tempo. No final dessa fase, todos os materiais atingirão seu ponto de ignição, transformando o ambiente inteiro em chamas.

A fase totalmente desenvolvida é chamada também de estágio de queima livre ou estável, é quando o incêndio se torna mais forte, usando mais e mais oxigênio e combustível. A temperatura se elevará acima de 800ºC. O acúmulo de fumaça e gases quentes é ampliado. A concentração de oxigênio baixa para 18%, com diferenças entre o piso e o teto. Importante lembrar que os incêndios são controlados pela disponibilidade de combustível ou de ar.

A fase final é chamada também de estágio de brasa ou decrescente e ocorre quando o incêndio já consumiu a maior parte do oxigênio e combustível presentes no ambiente. As chamas tendem a diminuir e buscar oxigênio disponível por qualquer abertura. A concentração de oxigênio baixa para 16%. Se a concentração baixar para 15% ou menos, as chamas se extinguirão, permanecendo somente brasas. A temperatura no teto ainda é muito elevada e o ambiente é rico em gases quentes e fumaça. O ambiente começará lentamente a se resfriar.


Autor:

Antonio Carlos Vendrame – Engenheiro de Segurança do Trabalho e consultor de empresas
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Confira o artigo completo na edição de fev/abr/23 da Revista Emergência.

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