JONATHAN HECKLER/JC
Data: 23/04/2015 / Fonte: Jornal do Comércio

Porto Alegre/RS – A preocupação com a prevenção de acidentes de
trabalho é cada vez maior no Brasil. Mesmo que muitas empresas ainda
resistam a modificar os seus processos em prol da segurança de seus
funcionários, a criação de normas regulamentadoras mais críticas, como
as NR-10, 12 e 35, estimulam o desenvolvimento e a adoção de
equipamentos que diminuam as chances de um imprevisto laboral. Alguns
deles, como sensores eletrônicos e travas, e os mais diversos
equipamentos individuais estão expostos na 18ª PrevenSul, que ocorre até
amanhã, no Centro de Eventos da Fiergs, em Porto Alegre.

Entre
os aparatos mostrados na feira, voltada à segurança do trabalho, saúde e
emergência, destacam-se, principalmente, os dirigidos à indústria de
transformação, que é, também, a responsável pelo maior número de óbitos
registrados no Brasil – em 2013, último ano com as informações
disponíveis, o setor respondeu por 47 dos 140 óbitos laborais no Rio
Grande do Sul.

As opções para quem busca a proteção das máquinas,
vilãs de boa parte desses acidentes, apresentam a maior automação. Uma
prensa que, entre outras coisas, só funciona quando o operador posiciona
suas duas mãos sobre o equipamento, além de impossibilitar o seu uso
caso perceba, via sensores, que há movimento em seu interior, está em
exposição no estande da Global, de Caxias de Sul.

“Trouxemos esse
protótipo, porque, caso não se veja na prática, muitos aspectos da
NR-12, por exemplo, que regulamenta o uso de máquinas e equipamentos de
qualquer setor, acabam ficando apenas na teoria”, argumenta o gestor de
vendas da empresa, Guilherme Lorscheider. As tecnologias, porém, após
estudos de caso, podem ser adequadas a qualquer máquina já em
funcionamento na indústria.

Na mesma linha, a Automasafety, de
Alvorada, aposta em um equipamento de proteção das máquinas que, também
via sensores, forma uma espécie de tapete óptico que não permite o
ativamento caso haja corpos estranhos no perímetro. “Com isso, evita-se o
risco de dar a partida em uma máquina caso haja uma pessoa nas chamadas
zonas brancas, áreas que não são visíveis ao operador”, conta André
Pedroso, responsável pelo suporte técnico na empresa.

De acordo
com a NR-12, em vigor desde o fim de 2010, toda máquina na indústria que
exija acesso humano mais de uma vez por turno deve ter um recurso de
segurança com essa função, que já é, em sua essência, tradicional no
ramo de segurança de trabalho. Mesmo assim, segundo Lorscheider, nem 5%
das indústrias já cumpririam o requisito, uma vez que a adequação causa
mudanças nos processos de cada companhia.

“Temos uma das
legislações mais críticas quanto à segurança de trabalho, mais avançada
do que a grande maioria dos países”, acrescenta Pedroso, que justifica o
fato pela cultura do brasileiro. “Na Europa, se colocar uma faixa
amarela no chão dizendo que não pode passar, já é o suficiente. Aqui,
você coloca uma grade e as pessoas dão um jeito de pular e continuar”,
brinca.

As novidades da feira, porém, não se restringem às
máquinas. Além de equipamentos de proteção individual, como luvas,
protetor solar e roupas contra o fogo, há espaço também para quem tenta
unir proteção com conforto. A Arteflex, de Novo Hamburgo, aposta em uma
linha de calçados de proteção com materiais mais leves e design mais
próximo de calçados comuns, que permitam aos funcionários utilizarem-nos
fora do local de trabalho. “É uma tendência mundial, só no Brasil ainda
utilizamos sapatos de couro, desconfortáveis, que não despertam nenhuma
vontade de usá-los”, comenta Alexandre Annunciato, gerente comercial da
empresa.

Estabilização no número de acidentes poderá ser afetada por terceirização de funcionários
Mesmo
que implementada de forma lenta nas empresas, a normatização, cada vez
mais abrangente, tem ajudado a estabilizar o número de acidentes de
trabalho no País. Nesta década, em todos os anos, foram registrados
números em torno de 700 mil casos no Brasil – em 2013, por exemplo,
último ano com as informações disponíveis, foram registrados exatamente
717.911 acidentes.

A projeção de que os números cresçam, porém, é
um dos argumentos utilizados contrariamente à regularização da
terceirização do trabalho no Brasil, em discussão no Congresso Nacional.
“Atualmente, os contratantes terceirizam o risco, mas não terceirizam a
prevenção”, defende Alexandre Gusmão, diretor da Proteção Eventos,
realizadora da PrevenSul.

Embora todos estejam expostos ao mesmo
risco de acidentes, as empresas priorizariam os seus próprios
empregados, fornecendo equipamentos de menor qualidade ou até
negligenciando os terceirizados, sob o argumento de que seriam
responsabilidade da terceirizadora. “Embora seja um problema grave
atualmente, é claro que pode mudar caso algo regulamentando esse tipo de
situação conste na nova legislação”, contemporiza Gusmão.

Além
disso, como os números são contabilizados pelos registros da Previdência
Social, encaminhados ao órgão pelas próprias empresas, alguns fatores
permitem a conclusão de que sejam, na realidade, muito maiores. O
principal, argumenta o diretor, é a baixa inclusão dos chamados
“acidentes de trajeto”, como os acidentes de trânsito sofridos na ida ou
volta do trabalho. “Temos, também, os acidentes psicossociais,
derivados do estresse ou da pressão, de difícil enquadramento,
dependendo do ramo de atuação do trabalhador”, acrescenta Gusmão.

A
PrevenSul, com projeção de 10 mil visitantes, tem visitação aberta a
profissionais e estudantes das áreas de prevenção de acidentes, saúde no
trabalho e resgate e emergência, além de eventos paralelos, como
cursos, seminários e workshops.

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