As diferentes visões de uma tragédia – parte 1

Nos três últimos meses temos sido bombardeados, diariamente, por centenas de informações do Brasil e do mundo, sobre a pandemia da Covid-19. O vírus responsável por essa doença conseguiu atrair 90% da atenção do mundo para ele. Todos os outros assuntos não ocupam mais de 10% das pautas da grande mídia. Não se fala mais em outras doenças letais, acidentes de trânsito, violência urbana, temas identitários, entre muitos outros que, aparentemente, deixaram de existir. Para tentar organizar o meu raciocínio, comecei a agrupar as informações mais relevantes em grupos, de acordo com as respectivas fontes: grande mídia, governamentais e redes sociais. Uma primeira dificuldade é estabelecer critérios de confiabilidade nessas informações, venham de onde venham – nem sempre falsas, mas muitas vezes fora de contexto ou direcionadas – uma vez que é do conhecimento de todos que interesses individuais, de grupos, corporativos, organizações sociais, governos nacionais e macro interesses geopolíticos, sempre estão em jogo em todo o processo de comunicação humana online de hoje.

A minha percepção, considerando a dinâmica do processo desde o inicio deste ano e que continua evoluindo, é que podemos dividir as possíveis interpretações sobre a pandemia em três grandes correntes de seguidores: os teóricos de conspirações, os ambientalistas e os religiosos. Não vou entrar na discussão do mérito de cada uma quanto a sua maior ou menor consistência de conteúdo aceitável. Essas correntes interpretativas serão consideradas apenas como hipóteses, com a finalidade de estimular um debate em cima dos diversos argumentos que tentam fundamentar cada uma dessas teorias, nesses longos períodos de confinamento, pelo menos para aqueles que se encontram reclusos em casa nos tempos atuais. Como o tema é muito amplo, neste artigo vou me dedicar à primeira delas, as Teorias da Conspiração, fartamente exploradas nas mídias sociais onde os autores, na maioria das vezes, não têm compromisso com a verdade, com a comprovação de fatos ou fontes e isenção científica. O advogado americano Larry Klayman e seu grupo de defesa Freedom Watch abriram esta semana um processo de US$ 20 trilhões contra autoridades chinesas nos EUA devido a um surto de coronavírus (saiba mais aqui). Vamos a alguns argumentos que defendem a tese de que a China planejou e iniciou uma guerra biológica em escala mundial. A  arma utilizada seria um vírus atenuado na sua letalidade mas com enorme capacidade de propagação. Como em todo surto epidêmico, os idosos, crianças e pessoas doentes, são as mais vulneráveis. Mas este novo Coronavírus, focou o seu alvo nos idosos, como foi amplamente divulgado no mundo e os percentuais de letalidade por faixa etária comprovam esse fato. Mas com a evolução da Covid-19, percebeu-se que o vírus ataca também os jovens e pessoas de média idade, caso tenham baixa imunidade e não exclusivamente os idosos. Então a especificidade do agente não é tão restrita assim. Mas é claro que, por diversas razões já devidamente veiculadas na imprensa, a população idosa é, certamente, a mais vulnerável.

Analisando o poder da arma letal e o alvo principal, do ponto-de-vista econômico e estratégico, ela tiraria de combate a fração da tropa menos produtiva para qualquer país em guerra e a mais onerosa em tempos de paz. Caso tenha havido um planejamento prévio, que poderia ter começado lá em 2002 com a SARS, também um coronavirus detetado na China, possívelmente um antídoto já teria sido desenvolvido ao longo desses anos para evitar um fogo amigo que atingisse o próprio país, com o seu 1,4 bilhão de habitantes; também seria possível limitar a área de risco, isolando a zona de dispersão do vírus e controlando assim a sua disseminação interna. A grande capital, Pequim, praticamente não foi atingida. A lentidão na notificação mundial dos primeiros casos que surgiram no país, no final de 2019, não seria estratégica para ganhar tempo na sua organização prévia?

A explosiva capacidade de disseminação com baixa letalidade, em um mundo globalizado, facilitaria contaminar todo o planeta rapidamente, o que já ocorreu,  e os longos períodos de internação em UTI para o tratamento, certamente colapsariam a estrutura hospitalar dos países, uma vez que as demandas normais de saúde pública continuariam a existir. Com a velocidade da mídia atual em divulgar notícias, principalmente as ruins em tempo real, veio outra capacidade mortífera dessa nova arma, a de instaurar o pânico na população divulgando imagens de muitos mortos concentrados em poucos locais, obrigando a paralisação da economia mundial e um consequente colapso das instituições financeiras internacionais, com desemprego maciço, instabilidade social, fome, etc. É curioso que um país com uma população imensa e com problemas sérios de condições sanitárias básicas, tenha controlado um epidemia em tão pouco tempo, com reduzido número de perdas e conseguido confiná-la em praticamente uma pequena parte do seu território, fato que os EUA a maior potência mundial econômica, científica e tecnológica não estão conseguindo.

Seguindo o raciocínio, um importante infectologista chinês afirmou, um mês antes, que em abril o surto já estaria controlado na China e foi o que aconteceu; previsão espantosa, quando se trata de propagação de epidemias. A justificativa dos especialistas financeiros para a queda brutal da bolsa de valores em todo o mundo é exatamente a da falta de previsibilidade de controle da agora, pandemia. E no momento em que a economia mundial despenca, as ameaças de lockdown começam a quebrar as cadeias produtivas e os governantes não conseguem achar um equilíbrio entre poupar vidas hoje e evitar um colapso social ainda maior amanhã, a China retoma as suas atividades normais. Mas o efeito pânico, provocado pela visão das mortes nos hospitais, as estatísticas de contaminação e mortalidade aumentando a cada 5 min e da possibilidade de qualquer cidadão ser atingido por esse inimigo invisível e mortal, não deixa qualquer espaço de tempo para uma discussão equilibrada entre governos, mídias e populações, na busca da melhor solução. E nesse cenário de guerra mundial, o único país que aparentemente está ganhando é a China. O imenso parque industrial chinês está rodando 24h por dia para atender as demandas do mundo inteiro, sem concorrência, principalmente dos insumos de EPI, necessários para garantir os atendimentos hospitalares em condições seguras para as equipes de saúde, onde detém 90% da produção mundial. Não seria um papel importante da OMS alertar para o risco de concentrar produtos dessa natureza em um só país? E seguindo ainda outros analistas, olhando o mapa de distribuição da epidemia no mundo, fica evidente que ela atingiu fortemente os polos internacionais de concentração de riqueza e poder, como os EUA, a Europa, países mais ricos da Ásia e alguns do Oriente Médio e estratificando esses alvos, capitais financeiras do ocidente como Nova York, Londres, Paris, Madri e o norte da Itália. Parece um enredo de filme de espionagem, mas cujo cenário é real e caberá aos especialistas em planejamento estratégico de guerras, principalmente as biológicas, confirmar ou não essa hipótese. E se a China não planejou uma guerra, mas sim se aproveitou de uma situação de ameaça epidemiológica que poderia ser fatal para o país, para realizar um grande e verdadeiro teste simulado de defesa civil? A conferir nos próximos anos.


O blog Proteja-se trata de segurança humana de uma forma geral, pois nenhum sistema de proteção civil do mundo consegue garantir a total segurança do indivíduo sem que o mesmo adote procedimentos de autoproteção. O blog quer ajudar a desenvolver no Brasil a cultura da autoproteção. O autor do blog é Airton Bodstein, Doutor em Química Ambiental pela Université de Rennes I, França e Pós-doutorado na Oregon State University, EUA. Fundador do Mestrado em Defesa e Segurança Civil e Professor Titular da Universidade Federal Fluminense. Fundador e atual Presidente da ABRRD – Associação Brasileira de Redução de Riscos de Desastres.
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