terça-feira, 30 de abril de 2024

Técnicas especiais de controle de incêndio interiores

Por Marco Aurélio da Rocha

Depois da publicação no Blog sobre técnicas de combate a incêndio interior (estrutural) – 2ª Parte, recebi pedidos para falar um pouco mais sobre a técnica do ataque tridimensional (técnica 3DWF)

Lembro a todos inicialmente que numa emergência o comandante da operação (CO) é que definirá quais as melhores táticas, técnicas e estratégias a serem empregadas para o controle do incêndio, levando em consideração as condições e a fase em que o incêndio se encontra, quais recursos e meios estão disponíveis e presentes no local, nível de qualificação da equipe de respondedores e claro, se há ou não vítimas que necessitem de resgate.

Temos técnicas utilizadas há muito tempo por várias organizações que ainda carecem de melhor divulgação, qualificação e estudo, como a do ataque combinado (já abordada) e a 3DWF.

Podemos simplificar dizendo que essas técnicas “especiais”, nada mais são que métodos de controle de incêndios para serem empregadas em ambientes confinados, onde há superaquecimento e usamos a geração de vapor de água, através do emprego do jato neblinado e variações como os jatos atomizados, que também são formas de ataque indireto, auxiliado assim a extinção e/ou no resfriamento dos gases, podendo desta forma evitar ignições explosivas (backfrafts) e ignições generalizada (flashovers).

Isso é tratado com muita propriedade nos cursos específicos que abordam os incêndios de rápido progresso (rapid fire progress) que segundo a NFPA (National Fire Protection Association) é todo tipo de incêndio que se desenvolve de forma rápida ou súbita, a partir de fenômenos já de nosso conhecimento como o flashover e o backdraft, assim comoo fire gas ignition.

Os termos citados acima não tem até o momento nenhum publicação que forneça a tradução correta, por isso preferimos usar sua terminologia em inglês ou a “abrasileirada” ignição súbita generalizada (flashover), ignição explosiva ou explosão de fumaça (backdraft) e iginição dos gases do incêndio (fire gas ignition)

METÓDO DE RESFRIAMENTO DOS GASES POR COMBATE TRIDIMENSIONAL

Essa forma de ataque ou combate, se baseia na técnica de resfriamento dos gases (técnica 3DWF) e é um método relativamente novo e inovador, só que para sua execução e utilização plena, muitos paradigmas ainda terão que ser quebrados. Esse método, denominado por alguns autores como ataque tridimensional com agua em jato atomizado (3DWF) fé uma técnica que consiste basicamente no direcionamento de curtos pulsos de água nebulizada (atomizada) na camada de pressão positiva formada pelos gases aquecidos gerados pelo incêndio,

podendo ser usada de forma defensiva para evitar os efeitos de incêndios de progressão rápida (flashover, backdraft e fire gas ignition).

O termo é chamado de tridimensional pois se refere aos mecanismos de volume da combustão na fase gasosa e as aplicações associadas de água, que são calculadas em valores cúbicos (lpm/m³).

A técnica não serve propriamente para a extinção do incêndio, mas sim para o resfriamento dos gases e redução da temperatura do ambiental, garantindo desta forma um acesso mais seguro até o foco de incêndio principal, ou ponto zero, e a redução da probabilidade da ocorrência de fenômenos ligados a incêndios de propagação |progressão| rápida (rapid fire progress).

A aplicação desses jatos de água neblinados e/ou atomizados, de curta duração, é chamada de pulsações e, basicamente, existem 3 (três) diferentes técnicas de pulsar água num incêndio confinado: pulsações curtas, pulsações médias e pulsações longas com varredura, sendo:

Pulsação curta: É realizada através de jatos de água de curtíssima duração (0,1 a 0,5 segundo) ajustados num ângulo médio (jato neblinado) dirigidos diretamente sobre os gases provenientes da combustão na zona de pressão positiva (parte mais elevada da área sinistrada).

O esguicho deve estar regulado entre 40 e 60 graus e o respondedor deverá posicionar-se agachado de forma que o jato aplicado venha formar um ângulo de 45º em relação ao solo. Essa técnica gera o resfriamento dos gases inflamáveis provenientes da combustão evitando assim a ocorrência de fenômenos ligados a incêndios de propagação rápida e ainda evitar que os gases atinjam temperaturas de auto-ignição.

Pulsação média: É realizada através de jatos de água de curta duração (0,5 a 1 segundo) ajustados numa anulação média (jato neblinado) dirigidos também à zona de pressão positiva. Os principais efeitos dessa técnica é a geração de resfriamento dos gases inflamáveis provenientes da combustão. A redução da temperatura permitirá ainda uma melhor penetração no interior do ambiente sinistrado.

Pulsação longa com varredura: Técnica semelhante à pulsação média, onde o respondedor (bombeiro, brigadista, combatente) deve dirigir os jatos de água diretamente sobre a zona de pressão positiva e dos gases incendidos movendo a linha de ataque de forma circular. Essa técnica tem por finalidade projetar a maior quantidade possível de gotículas de água na camada dos gases aquecidos. Deve ser empregada em situações onde existam grandes volumes de gases aquecidos, já que seu efeito principal é o resfriamento das chamas e inertização (diluição) dos gases inflamáveis provenientes da combustão.

Espero que com essa publicação tenha conseguido sanar algumas dúvidas dos leitores, ou quem saber gerar mais dúvidas ainda, essa era a ideia, repassar informações, formar e consolidar conceitos ou até gerar a provocação pela busca de informações atualizadas e com credibilidade, pois para os respondedores de emergência o conhecimento é vital para o atendimento de qualquer missão.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Fonte: ENB – Sintra 2005
  • LAYMAN, Lloyd. Attacking and extinguishing interior fires. Boston: National Fire Protection Association, 1960.
  • IFSTA. Essencials of fire fighting, 4ed. Oklahoma State University: 1999
  • GRIMWOOD Paul e DESMET Koen. Tactical Firefighting: A Comprehensive Guide To Compartment Firefighting & Live Fire Training (CFBT). 2003.
  • OLIVEIRA, Marcos de. Manual de Estratégias, táticas e técnicas de combate a incêndios estruturais. Florianópolis: 2005.
  • Manual Técnico do Corpo de Bombeiros da PMSP. Combate a Incêndio em Local Confinado. São Paulo: 2006.
  • Manual Básico de Combate a Incêndio do CBMDF. Técnicas de Combate a Incêndio. 2ª edição. Brasília: 2013.

O blog Emergência em Pauta trata do gerenciamento de emergências e segurança contra Incêndio e Pânico. O autor do blog é Marco Aurélio Nunes da Rocha, técnico em Segurança e em Química. Emergency Medical Technician (EMT-B). Graduado em Química e em Segurança, Licenciado em Biologia e em Pedagogia. Mestre em Prevenção de Riscos. Pós-Graduado em Gerenciamento de Crises, Emergências e Desastres, em Segurança e Higiene Ocupacional, em Toxicologia Geral e em Segurança contra Incêndio e Pânico. Especialista em Psicopedagogia e em Urgência e Emergência Pré-hospitalar. Professor de cursos de Pós-Graduação de Engenharia de Segurança, Medicina do Trabalho, Enfermagem do Trabalho e em Urgências e Emergências, Engenharia de Prevenção e Combate a Incêndios, Defesa Civil, Gestão de Crises, Emergências e Desastres e APH Tático Militar e nos MBAs Executivos de Gerenciamento de Crises e de Safety e Security. Diretor do SINDITEST/RS | [email protected]

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