Chuvas extremas e autoproteção

Há algumas décadas atrás os avisos meteorológicos preveniam a população sobre a possibilidade de ocorrência de chuvas fortes em determinado momento. Aos poucos os avisos passaram a se referir a chuvas intensas e agora chegamos ao ponto de prevenir as pessoas sobre o risco iminente de chuvas extremas. E essa terminologia evoluiu em relação direta com o volume de chuva esperado em 24h, que no primeiro momento eram de 10 a 15 mm, depois de 20-40 mm e hoje vemos, com frequência, chuvas atingindo volumes que ultrapassam 100 mm/dia, o que evidencia as fortes mudanças climáticas que vêm ocorrendo no planeta.

Em artigo que publiquei em parceria com as meteorologistas Claudine Dereczynski e Renata Calado da UFRJ em 2017, intitulado Chuvas Extremas no Município do Rio de Janeiro: Histórico a partir do Século XIX, fica demonstrado, a partir de dados obtidos desde 1881 em jornais da época e outras fontes, que a cidade do Rio de Janeiro sempre sofreu os impactos de eventos de chuvas extremas. O grande diferencial em relação aos nossos dias é a alta frequência que chuvas com mais de 100 mm/dia, vêm ocorrendo, causando graves consequências.

Mas o objetivo deste blog não é fazer uma análise científica sobre as chuvas extremas – quem tiver interesse leia o artigo na íntegra em www.anuario.igeo.ufrj.br/2017_2/2017_2_17_30.pdf – e sim, o perigo que elas representam para a sua segurança e da sua família, com risco real de graves acidentes ou até de morte.

O problema é que associado às fortes chuvas, contra as quais nada podemos fazer, temos outros problemas causados pela falta de políticas públicas voltadas para a redução de riscos de desastres.  A começar pela alta impermeabilização das cidades modernas, o adensamento populacional, o fluxo intenso de veículos nas ruas, paralisando o trânsito quase que diariamente nas grandes capitais, além do acúmulo de lixo nas galerias pluviais e a total falta de percepção de riscos da nossa população. Esse pacote resulta em transbordamento de rios urbanos, enchentes, inundações, fortes enxurradas, arrastando tudo o que encontram pela frente e mais grave, milhares de pessoas aprisionadas em seus próprios veículos com riscos de afogamento.

Nesse cenário, só nos resta colocar em prática algumas mudanças de comportamento no nosso dia-a-dia a fim de reduzir o risco de danos graves e irreversíveis. Em primeiro lugar, não se expor ao risco, ou seja, acompanhar os avisos de alertas meteorológicos (www.cemaden.gov.br) e também da Defesa Civil (faça o seu cadastro no 40199) para receber avisos por SMS. Em caso de previsão de chuvas intensas, evitar ao máximo os deslocamentos desnecessários, se possível ficando em casa ou em locais abrigados. Quando se deslocar em veículos, evitar as vias mais sujeitas a enchentes e  manter em seu carro, um kit salvamento para inundações, composto por: martelo para quebra de vidro, uma corda com cerca de 15m com mosquetão nas duas pontas, um colete salva-vidas leve e um capacete para skate. Todos esses artigos são encontrados facilmente no mercado. E não se esqueça: volume de água atingindo a metade dos pneus é hora de abandonar o veículo. Proteja-se.


O blog Proteja-se trata de segurança humana de uma forma geral, pois nenhum sistema de proteção civil do mundo consegue garantir a total segurança do indivíduo sem que o mesmo adote procedimentos de autoproteção. O blog quer ajudar a desenvolver no Brasil a cultura da autoproteção. O autor do blog é Airton Bodstein, Doutor em Química Ambiental, Fundador do Mestrado em Defesa e Segurança Civil e Professor Titular da Universidade Federal Fluminense. Fundador e atual Presidente da ABRRD – Associação Brasileira de Redução de Riscos de Desastres.
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