A epidemia do coronavírus e as medidas de prevenção e contenção

Analisarei a epidemia do coronavírus (2019-nCoV) sob a ótica do gerenciamento de crises, emergências e desastres que é uma disciplina que leciono em cursos de especialização. Podemos dizer que o quadro atual em relação ao coronavírus já se configura como “pandemia”, que é uma epidemia que não pode mais ser contida em um único país, espalhando-se para diversos partes do mundo, com transmissão local. 

A Organização Mundial da Saúde continua relutante em declarar pandemia, pois segundo ela a luta não é apenas para conter o vírus, mas também para conter os danos econômicos e sociais que uma pandemia global possa causas, ainda segundo o diretor-geral da OMS, usar a palavra ‘pandemia’ de forma irresponsável trará riscos significativos, já que amplificará de forma desnecessária o medo e os estigmas. Por outro lado, outros lucram com o caos instalado, prova disso é que em algumas cidades não se encontram mais máscaras cirúrgicas nem respiradores para aquisição (mesmo a OMS não recomendando o uso de equipamentos de proteção individual, incluindo respiradores, pelo público em geral), vale ressaltar que o coronavírus é transmitido através das gotículas de saliva, do espirro, da tosse, pelo catarro e pelo contato com objetos e/ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a mucosa, boca, nariz ou olhos. Desta forma o meio mais eficaz de prevenção continua sendo seguir as medidas básicas de proteção, tais como evitar proximidade com pessoas doentes, manter distanciamento de possíveis fontes de contaminação, evitar permanência em locais com grande concentração populacional onde haja possibilidade de estarem presentes pessoas infectadas, e em especial as medidas universais de higiene e assepsia, como lavar as mãos frequentemente com água e sabão, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabão, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool (mesmo este sendo muito controverso), evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos “sujas”. Lembramos que essas medidas não eram para ser usual somente agora na “era” do coronavírus, mas sim ser pratica usual do dia a dia de qualquer pessoa.

Me perguntavam seguidamente se eu achava que o Covid-19 iria chegar até nós, e eu respondia “sim”. Seria muita pretensão nossa achar que esse vírus, que não respeita fronteiras não chegaria até nós, no início até acreditei que que não, mas depois de acompanhar sua evolução no cenário europeu e em algumas cidades norte americanas, e alicerçado pelas declarações do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos que afirmou ser inevitável uma epidemia em solo norte americano, conclui que se os EUA e a Europa não conseguiram evitar a transmissão em seus territórios, dificilmente o Brasil  conseguiria, sobretudo por ser um pais de dimensões continentais, possuindo mais de 23.000 quilômetros de fronteiras terrestres e marítimas.

Um século após o surto da gripe espanhola, o coronavírus nos traz a lembrança as medidas rígidas de isolamento, contenção e vigilância que foram empregadas a época, já que alguns epidemiologistas afirmam que ele coronavírus, é, provavelmente, uma ameaça tão séria como foi a gripe de 1918, no que tange às medidas de contenção que deverão ser colocadas em ação.

Na China em 20 de janeiro foram identificados 300 casos, um mês depois já passava de 75 mil casos, desta forma a medida inicial para tentar frear a disseminação do coronavírus foi colocar em quarentena toda a cidade de Wuhan, local onde a epidemia se originou.

Ainda em fevereiro, o governo chinês introduziu o uso de um aplicativo de celular que indica o status de quarentena de cada pessoa: verde para quem pode sair às ruas, amarelo para quem deve se isolar em casa por uma semana e, vermelho, por duas semanas. Esse sistema de triagem, funciona como uma espécie de passaporte digital, sendo objeto de fiscalização a todo momento, desta forma se alguém não estiver tachado como “verde”, não pode circular pelas ruas.

O sistema de quarentena já foi utilizado na Idade Média por conta da peste negra e para a gripe espanhola no início do século XX. Hoje com o aparecimento do coronavírus fica o questionamento: Estamos preparados? Temos experiência com medidas de isolamento e quarentena?

Segundo a OMS, a quarentena chinesa é a prova de que o vírus ainda pode ser contido, por isso diversos cientistas defendem que os locais afetados precisarão implementar alguma medida de controle e contenção, já que a cada vez que as pessoas se encontram nas ruas, nas escolas, em festas ou no sistema de transporte público, haverá a oportunidade de transmissão do vírus. Por isso a questão que temos que responder é referente a quais medidas de distanciamento social deverão ser adotadas e por quanto tempo continuadas.

Em 1918 quando da ocorrência da gripe espanhola, foi necessário fazer esse questionamento, chegando a serem implementadas medidas de isolamento social drásticas como cancelamento de aulas, de shows e de eventos esportivos, proibição de realização de cultos religiosos e até troca de horário de entrada e saída de algumas empresas objetivando evitar concentração de pessoas no transporte público.

Essa dúvida deve voltar a rondar as autoridades nos tempos atuais. Acredito que num primeiro momento será difícil que a sociedade moderna coopere com mudanças tão drásticas no seu dia a dia, já que muitos terão que sair da zona de conforto, mas, na hora que for necessário e vital, tenho certeza que cooperaremos e seguiremos as recomendações, mas um complicador será nosso preparo e capacidade para coordenar essa grande operação.

Em janeiro, nosso governo instalou um Centro de Operações de Emergência, divulgou orientações de como as unidades de saúde locais, aeroportos e portos devem atuar bem como quais protocolos devem ser utilizados para lidar com o novo vírus.

Uma medida importante foi aumentar o nível de alerta para o novo coronavírus. Em fevereiro, o Ministério da Saúde instituiu o estágio de emergência pública (nível máximo de alerta), estágio semelhante ao declarado em 2015 por causa do vírus zika e do aumento dos casos de microcefalia.


O blog Emergência em Pauta trata do gerenciamento de emergências e segurança contra Incêndio e Pânico. O autor do blog é Marco Aurélio Nunes da Rocha, Técnico em Segurança e em Emergências Médicas. Graduado em Segurança e Pós-Graduado em Gerenciamento de Emergências e Desastres, em Segurança e Higiene Ocupacional, em Toxicologia Geral e em Segurança contra Incêndio e Pânico. Especialista em Urgência e Emergência Pré-hospitalar. Professor de cursos de Pós-Graduação de Engenharia de Segurança do Trabalho, Engenharia de Prevenção e Combate a Incêndios, Defesa Civil, Gestão de Emergências e Desastres e em APH Tático. Membro da International Association of Emergency Managers (AEM/USA). Diretor do SINDITEST/RS.
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