As diferentes visões de uma tragédia – parte 2

Dando continuidade à nossa análise das diversas hipóteses que possam melhor explicar a pandemia da Covid-19, vamos considerar agora alguns argumentos utilizados por outras correntes de pensamento que consideram que a natureza tem uma lógica própria na busca pelo equilíbrio entre o meio físico e os seres que habitam o nosso planeta, de forma a garantir a sustentabilidade de ambos.

É conhecida a grande batalha que travam, atualmente, os adeptos do IPCC e ambientalistas de uma forma geral – cuja tese é a de que o homem é o responsável pelo aquecimento global, que tem provocado diversas catástrofes no mundo, e que levará à extinção da humanidade, – contra os chamados céticos, que vêm essas manifestações da natureza como fenômenos normais de acomodação e equilíbrio do planeta, sem qualquer relação com a atividade humana. Ambas as teses evocam um respaldo científico e sem entrar no quantitativo de cada grupo, a verdade é que não há um consenso no mundo acadêmico/científico sobre o tema, e nenhuma das partes consegue provar, de forma conclusiva, que os seus argumentos são mais consistentes que os dos seus opositores. É sempre possível apresentar dados, mesmo verdadeiros, com bases cientificas, mas com diferentes enfoques, em escalas distintas, fora de contexto ou ainda em números relativos ou absolutos, quando houver interesse em direcionar a interpretação da maioria, para uma tese que venha a beneficiar os interesses de um determinado grupo político, econômico, social ou ideológico. Mas o que todos concordam é que as mudanças climáticas são reais e estão ocorrendo em todo o planeta, trazendo consigo diversas consequências para o ambiente e para a vida das pessoas.

Nessa linha de pensamento podemos evocar as Teorias da Evolução que, quando nos referimos à evolução das espécies, dividem-se entre o Evolucionismo e o Criacionismo. O primeiro propõe a evolução das espécies por meio da seleção natural em função da maior ou menor capacidade de adaptação às mudanças ambientais; para os interessados, vale a pena ler os trabalhos do naturalista francês Jean-Baptiste de Lamarck (1744-1829), cujas teorias foram denominadas de “Lamarckismo” e principalmente a teoria da evolução das espécies, desenvolvida pelo naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882), sendo o conjunto de suas teorias evolutivas nomeada de “Darwinismo”. Autor de “Origem das Espécies” (1859) é um dos grandes nomes sobre teorias relacionadas ao evolucionismo. A sua teoria baseia-se na seleção natural das espécies, mundialmente aceita até a data de hoje. Desse modo, somente as espécies adaptadas às pressões do ambiente, são capazes de sobreviver, se reproduzir e gerar descendentes. Há de se considerar também os trabalhos de Gregor Mendel (neodarwinismo) que se caracterizam pela união dos estudos de Darwin, principalmente a seleção natural, com as descobertas na área da genética.

Muitos são os seguidores da tese de que as doenças, de qualquer tipo, serão sempre mais letais para os mais fracos (seleção natural), hoje traduzidos pelo termo, “mais vulneráveis fisicamente”, que na população, de um modo geral, engloba os grupos dos idosos, crianças e adultos frágeis, estes por possuírem doenças crônicas ou agudas ou outros diversos fatores relacionados à redução da imunidade. Isso explicaria, em parte, os altos níveis de letalidade da Covid-19 entre os idosos e jovens com comorbidades. Mas fica uma grande questão: por que o novo Coronavírus poupou um grupo vulnerável a outros vírus como as crianças? Não faltarão argumentos científicos para (tentar) provar a resistência das crianças, especificamente ao novo Coronavírus, mas até a presente data os estudos apresentados não oferecem comprovação científica robusta.

Considerando essa inconsistência científica dos evolucionistas, podemos confrontá-la com as teses do terceiro grupo, os Criacionistas. A Teoria da Criação ou “Criacionismo” considera que tanto a origem do Universo quanto o surgimento da vida e o seu desenvolvimento não teriam relação com a teoria evolucionista, mas sim fruto da obra de um grande Criador. Trata-se de uma visão religiosa do mundo que considera que tudo no universo, incluindo os seres vivos, obedece a leis divinas, sendo que cada religião tem uma abordagem própria sobre o tema. Essa visão religiosa do mundo tem como maior exemplo a citação bíblica da destruição das cidades de Sodoma e Gomorra como punição imposta pelo Criador a uma população, cujo comportamento social, infringia todas as regras definidas pelos padrões morais, éticos e religiosos da época.

Voltando aos tempos modernos, as correntes religiosas vêm, há muitas décadas, alertando o mundo para a aproximação do Juízo Final em analogia ao ocorrido nas cidades bíblicas. Segundo os criacionistas, a humanidade vem sendo conduzida nos últimos séculos pela ganância, pela busca do poder a qualquer preço, pela ausência de solidariedade, pelo desrespeito às minorias, pelo aumento das desigualdades sociais, ou seja, o conceito de que vence o mais forte. O mundo chegou a tal ponto de interesses geopolíticos conflitantes com diferentes correntes ideológicas contrárias e radicalizadas, que não há mais espaço para o diálogo ou discussão de ideias. As divergências de opiniões e de condutas são vistas como declarações de guerra entre grupos rivais. A busca frenética pelo dinheiro, pelos lucros a qualquer custo, pela vaidade exagerada das selfies, a exposição excessiva nas redes sociais; todos viraram artistas e a vida particular de cada um passou a ser mais importante que a vida do coletivo. Valores culturais e sociais foram sendo questionados por grupos contrários e cada vez mais radicais e violentos. É mais fácil desqualificar o adversário, agora transformado em inimigo, do que tentar convencê-lo de que pode estar errado. Quando se vive em sociedade de forma a buscar o entendimento e a harmonia social, o mais importante é saber como o outro pensa e se comporta, e a partir daí buscar pontos de convergência que vão permitir o convívio harmônico com respeito às diferenças. Isso é mais importante do que tentar, obrigatoriamente modificá-lo, em concordância com as suas ideias.

Essa interpretação religiosa do mundo atual nos levaria à conclusão, que estaríamos à beira de um novo conflito em escala mundial com potencial para causar muitos milhões de vítimas. E nesse cenário apocalíptico a Divindade, para nos salvar, decidiu intervir e escolheu o caminho das pragas, como as utilizadas no antigo Egito, para conter, de forma abrupta, o avanço de um modelo de civilização que está caminhando, rapidamente, para o autoextermínio (parcialmente convergente com teorias ambientalistas).  Dentro desse raciocínio, a Covid-19, em pouco mais de 100 dias, está mudando radicalmente o comportamento da raça humana, alterando as noções de tempo e espaço. O confinamento está obrigando a um enorme exercício de convivência familiar, de paciência, de revisão dos conceitos sobre segurança humana e privacidade, das relações de trabalho e o mais importante, como todos são dependentes de todos. Mudanças importantes estão acontecendo nas economias domésticas, locais, regionais, nacionais e internacionais. As taxas de criminalidade aparentemente baixaram, ou pelo menos, não estão sendo contabilizadas e divulgadas como antes(?). Os acidentes rodoviários caíram bastante, liberando leitos hospitalares para os pacientes graves da nova epidemia e também a baixa procura dos hospitais pelos pacientes crônicos, com medo e até pânico (induzido?) de contrair uma doença ainda mais grave, colabora com a não saturação das estruturas de saúde, melhorando as condições de resposta à Covid-19.  Somente o Criador para conseguir tantas mudanças, em escala mundial e em tão pouco tempo. E quem pensaria, em uma situação tão crítica, em poupar as crianças, o futuro da humanidade talvez agora fundada em novos paradigmas. Somente Ele, o Pai com a visão total da sua grande família e orgulho da sua maior criação deixaria de fora as crianças que não são responsáveis por todo o mal existente.

Mas independentemente da corrente que você mais se alinha para tentar compreender e interpretar a pandemia da Covid-19 e os seus efeitos em quase todos os países do mundo, o mais importante é que ela é real, está lá fora, em qualquer parte do planeta e só nos resta respeitar todas as normas sanitárias recomendadas, a fim de preservar a nossa vida e a dos nossos entes queridos, sem esquecer jamais do coletivo, pois estamos todos dentro do mesmo barco. Proteja-se.


O blog Proteja-se trata de segurança humana de uma forma geral, pois nenhum sistema de proteção civil do mundo consegue garantir a total segurança do indivíduo sem que o mesmo adote procedimentos de autoproteção. O blog quer ajudar a desenvolver no Brasil a cultura da autoproteção. O autor do blog é Airton Bodstein, Doutor em Química Ambiental pela Université de Rennes I, França e Pós-doutorado na Oregon State University, EUA. Fundador do Mestrado em Defesa e Segurança Civil e Professor Titular da Universidade Federal Fluminense. Fundador e atual Presidente da ABRRD – Associação Brasileira de Redução de Riscos de Desastres.
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