Covid-19: Pandemia x Medidas de Contingência

Sei que esse assunto está tão em moda que esta tornando-se repetitivo e até em certo momento chato, mas face a urgência e a criticidade atual, é importante abordarmos esse assunto mais uma vez.  Não abordaremos sobre a ótica da epidemiologia e muito menos da infectologia, mas do ponto de vista da gestão de crises, e em especial no que tange a preparação e resposta ao Sars-CoV-2, o novo coronavírus que causa a Covid-19, já que especialistas afirmam um dos elementos chave para a contenção de um vírus é reagir rapidamente, antes que ele se espalhe entre toda a população. A preparação e a ação rápida são essenciais nos estágios iniciais. Nos USA e na Europa talvez não tenha havido falta de preparação, mas sim reação tardia.

Como havia falado nos posts anteriores, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi morosa em declarar a pandemia para o Covid-19 (fato ocorrido na última quarta-feira, 11 de março). Face a esta demora, medidas mais enérgicas a níveis globais resultaram em um descompasso refletido nas ações locais.

O que vimos por aqui no Brasil é que essa pandemia fez com que autoridades: federal, estadual e municipal elaborassem e anunciassem diversas medidas pontuais visando conter e/ou minimizar a transmissão da doença. Isso atingiu escolas e universidades, transporte público, serviços de saúde, campeonatos de futebol, empresas públicas e privadas bem como o comércio em geral.

Podemos estar certos que o coronavírus, chegará em nossa cidade, ao nosso bairro quiçá a nossa rua, acredito que isso é inevitável, segundo os modelos matemáticos estudados e divulgados, e desta forma podemos dizer que fará muitas vítimas quando ocorrer esta chegada, devido à baixa disponibilidade de leitos em relação a potencialidade de infectados necessitar de terapias intensivas para os casos mais graves. Podemos dizer que a grande diferença entre a vida a morte nesse caso, será a forma como nos preparamos e como lidaremos com essa crise. Não podemos entrar em pânico, já que o pavor e o medo nos fazem reagir muitas vezes como o homem primitivo, o qual agia levado pelo instinto animal, fazendo desta forma a emoção sobrepor a razão.

Estamos num momento de esquecer as teorias das conspirações e as crendices populares bem como as notícias fantasiosas, mas devemos acima de tudo não menosprezar o cenário atual, devemos, pois, acreditar no que a comunidade científica está estudando, divulgando e recomendando.

Infelizmente muitos ainda estão céticos (talvez só acreditarão quando a doença bater a sua porta e atingir um ente querido, mas pode ser que seja tarde demais), por isso sempre digo que há duas formas de aprendizado, pelo amor ou pela dor. Por isso esse momento não é para histeria e pânico, nem para ceticismo, preocupações e interesses, nem políticos e nem econômicos difusos, mas sim para nos prepararmos e agirmos com prudência para zelar por quem amamos, pelo próximo e por toda comunidade.

ISOLAMENTO / DISTANCIAMENTO SOCIAL

O distanciamento social é a solução para a crise?

Segundo os especialistas, quando os primeiros contágios de um novo vírus são relatados em uma população, as medidas de contenção não fazem mais tanto sentido e outras, como o distanciamento social, acabam sendo mais eficazes na prevenção de contágios. Acredito que o distanciamento social não será totalmente eficaz, pois a contaminação chegará até nós. A ideia é suavizar a curva de replicação viral, e, por conseguinte reduzirmos o número de contaminados/infectados num mesmo momento, de forma que seja possível tratar os doentes na capacidade de nosso sistema de saúde. De acordo com os modelos matemáticos apresentados, logo teremos um ápice de contaminação/infecção que gerará um número tão grande de doentes que superará e muito a nossa capacidade de atendimento, e consequente recuperação dos enfermos, e isso é o que deve ser evitado.

Desde que os primeiros surtos de coronavírus começaram a ser notificados fora da China, a OMS insistiu que, além do distanciamento social, lavar regularmente as mãos e manter uma boa higiene ao notar qualquer sintoma são essenciais para evitar a transmissão do vírus.

Mas temos sempre que possível evitar a permanência em locais com grande concentração populacional onde haja possibilidade de estarem presentes pessoas infectadas, por isso de nada adianta nossos filhos não irem à escola e nós ao trabalho, e ao final da tarde irmos todos juntos ao shopping lanchar e/ou passear.

INTERNAÇÃO HOSPITALAR E ISOLAMENTO SOCIAL

Especialistas afirmam que a internação hospitalar está indicada somente em casos de quadro respiratório grave, em pacientes com cardiopatias, doenças pulmonares, diabetes, pessoas com baixa imunidade, neoplasias e grupos de maior risco aí incluído crianças menores de 2 anos e idosos acima de 60 anos bem como as gestantes. Já para os casos considerados “leves” pode ser empregado medidas restritivas individuais de isolamento e até quarentena domiciliar, com restrição de contatos com pessoas e ambientes externos obviamente.

Segundo o Ministério da Saúde, os casos suspeitos leves podem não necessitar de hospitalização e devem ser acompanhados pela atenção primária com medidas de precaução domiciliar.

Da mesma forma, existem recomendações para que pessoas com baixa imunidade não saiam de casa (asma, pneumonia, pneumoconioses, asbestose, tuberculose e câncer, doentes crônicos e transplantados), ficando no chamado isolamento domiciliar.

Pesquisadores analisaram a proporção entre jovens e idosos da população de vários países afetados e concluíram que o novo coronavírus é particularmente mais agressivo para a população mais velha.

No Brasil, cerca de 2% da população têm mais de 80 anos, desta forma, mesmo sabendo que pessoas a partir dos 60 anos já são consideradas vulneráveis, é esse o grupo que tem maior risco de vida. Se fizermos uma análise da taxa de mortalidade da doença em diferentes faixas etárias e traçarmos projeções estatísticas para cada população, chegaremos a um cenário quantitativo estimado de possíveis mortos em nosso Pais, e isso preocupa e muito, já que um estudo desenvolvido pela Universidade de Harvard, nos EUA, afirma que a proporção de contaminados em escala mundial ficará entre de 40% a 70%.

O PAPEL SOCIAL INDIVIDUAL NO CONTROLE DA PANDEMIA

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a maioria das estimativas do período de incubação (tempo entre a captura do vírus pelo ser humano e o início dos sintomas da doença) do Covid-19 varia de 1 a 14 dias, geralmente em torno de 5 dias. Temos que tentar manter esse isolamento social o maior tempo possível e necessário, pois sabemos que as grandes epidemias começam a ter suas taxas de contaminação diminuídas quando uma grande parcela da população já foi infectada e já está imune, não adoecendo mais.

Apesar dos esforços do Ministério da Saúde e dos especialistas ainda não é conhecida a pirâmide epidemiológica do Sars-CoV-2, não sendo desta forma precisar quantas são as pessoas assintomáticas que transmitem a doença, quantos estão sintomáticos, mas não vão buscar atendimento hospitalar, nem quantos vão para o hospital e internam e, dos internados quantos vão para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).

QUARENTENA

O Ministério da Saúde publicou uma portaria em 12/3/2020 traçando regras para realização de quarentenas. Essas medidas, que necessitam ser determinadas por ato formal de uma autoridade pública, podem ser adotadas por até 40 dias, podendo se estender pelo prazo necessário para reduzir a transmissão bem como garantir a manutenção dos serviços de saúde.

Podemos definir quarentena como a restrição de atividades ou separação de pessoas suspeitas de contaminação das pessoas que não estejam doentes, bem como de bagagens, animais, meios de transporte, equipamentos ou mercadorias suspeitas de estarem contaminadas, de forma a evitar uma possível contaminação e/ou propagação do coronavírus. Difere-se do isolamento, que é a separação de pessoas doentes ou contaminadas, ou de bagagens, meios de transporte, mercadorias e até encomendas postais, podendo perdurar por até 14 dias. 

A quarentena também pode ser uma restrição quanto a circulação em um determinado local, como rua, escola ou até mesmo aeroportos.

 PALAVRAS FINAIS

Para finalizar gostaria de ressaltar a importância de evitarmos o “contato físico” com muitas pessoas, devemos praticar o distanciamento de segurança sempre que possível, e colocarmos em prática políticas públicas visando retardar a transmissão do coronavírus. Como já disse, devemos acreditar e seguirmos as recomendações dos especialistas veiculadas em órgãos oficiais. Eles estão desenvolvendo protocolos e diretrizes para frear o mais problemático efeito da Covid-19: o aumento de casos graves simultâneos os quais sobrecarregarão o nosso sistema de saúde, fazendo com que parte dos pacientes graves fiquem sem o atendimento especializado adequado, gerando desta forma perdas de vida.

A OMS garante que não há como vencer o vírus. Mas ele deixará como legado uma necessidade real de repensarmos nossa existência bem como nossos hábitos e ações como seres da coletividade, isso é certo.


O blog Emergência em Pauta trata do gerenciamento de emergências e segurança contra Incêndio e Pânico. O autor do blog é Marco Aurélio Nunes da Rocha, Técnico em Segurança e em Emergências Médicas. Graduado em Segurança e Pós-Graduado em Gerenciamento de Emergências e Desastres, em Segurança e Higiene Ocupacional, em Toxicologia Geral e em Segurança contra Incêndio e Pânico. Especialista em Urgência e Emergência Pré-hospitalar. Professor de cursos de Pós-Graduação de Engenharia de Segurança do Trabalho, Engenharia de Prevenção e Combate a Incêndios, Defesa Civil, Gestão de Emergências e Desastres e em APH Tático. Membro da International Association of Emergency Managers (AEM/USA). Diretor do SINDITEST/RS.
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