terça-feira, 30 de abril de 2024

Considerações sobre uso de agentes químicos em controle de distúrbios e tumultos

Há tempos atrás abordei um tema que se tratava do uso dos agentes lacrimogêneos em controle de tumultos e distúrbios, avaliando esses agentes do ponto de vista a sua eficácia, aplicabilidade e riscos / perigos.

Pelos últimos acontecimentos e novos debates gerados sobre o tema (controle de tumulto com uso de agentes não letais), resolvi abordar novamente o assunto, me detendo ao ponto de vista científico face a minha formação em química e em toxicologia, deixando  de lado as questões operacionais, mesmo já tendo utilizado esses artefatos em treinamentos e simulações de CDC (Controle de Distúrbios Civis).

O QUE É UM AGENTE LACRIMOGÊNEO?

Qualquer composto químico que possa produzir efeitos irritantes pode ser chamado de lacrimogêneo, mas a denominação “agente de controle de distúrbio ou agente antidistúrbio” comumente chamado de “gás lacrimogêneo” refere-se a um lacrimogêneo escolhido por sua baixa toxicidade e por, supostamente, não ser letal.

Os primeiros estudos clínicos retratavam que o gás causava irritação e mal-estar e, em concentrações controladas, era incapaz de deixar sequelas e/ou causar óbitos.

Por isso, esse agente recebeu a denominação de Arma Não Letal. Claro que em pessoas com problemas cardíacos e respiratórios, o gás pode até levar à morte, como já ocorreu inclusive em nosso pais.

QUAIS GASES SÃO USADOS COMO LACRIMOGÊNEOS E QUAIS EFEITOS

Os gases lacrimogêneos são fortes irritantes oculares, citamos como exemplo o CS que é o composto químico  chlorobenzylidenemalononitrile ou 2-Chlorobenzalmalononitrile (C10H5ClN2).

Já o CN que é cloroacetofenona (C8H7ClO) é designado da substancia 2-cloro-1-feniletanona, sendo um cristal branco com cheiro de pimenta e possui um cheiro irritante quando emite vapores, por isso é comumente utilizado como agente de atordoamento por forças militares e de segurança, sobretudo pelos operadores quando em operações de invasão tática e combate em ambiente confinado (CQB).

Esse agente é um organoclorado, e normalmente estes organos são irritantes, o CN é irritante e alquilante igual ao gás mostarda e lewisite porém claro que estes por sua vez muito mais agressivos e perigosos. O CN age em hidrólise com a água dos tecidos formando HCL e 2-Hidroxiacetofenona ambos perigosos, sendo por isso muitas vezes reportado dores e queimaduras ocasionadas pela acidez dos agentes.

O CR (dibenzoxazepina) por sua vez, possui formula molecular de C13H9NO, é um cristal também só que amarelo pálido e também emite vapores irritantes com cheiro também característico de pimenta. Esse agente possui uma persistência em ambientes abertos de até alguns dias, segundo relatos de alguns estudos em ambientes fechados pode persistir por mais de uma semana.

O dibenzoxazepina é um potente irritante e, possui uma ação urticante alta, é um agente de controle de distúrbios muito violento e por isso foi banido de algumas entidades, além de ser suspeito de ser carcinogênico.

Segundo Bibliografias, por ser de ação violenta, não é utilizado em grandes concentrações, sendo utilizado 1 grama de dibenzoxazepina em 800 mililitros de Propileno glicol e 200 mililitros de água.

Por ser extremamente potente deve ser usado em concentrações a baixo de 0,1%, sendo que a inalação em concentrações acima de 1% de dibenzoxazepina pode até gerar risco de ÓBITO, é mais persistente que o agente CN e menos tóxico que o CS, porém, por suspeita de ser cancerígeno seu uso está em decaimento.

O CR (dibenzoxazepina) causa ação instantânea nos olhos, fluxo excessivo de lágrimas, fechamento das pálpebras e incapacitação de indivíduos expostos.

Além dos efeitos nos olhos, esses agentes também causam irritação no nariz e na boca, na garganta e nas vias aéreas e às vezes na pele, particularmente em áreas úmidas e quentes.

Em situações de exposição maciça, o gás lacrimogêneo, que é ingerido, pode causar vômitos.

A toxicidade sistêmica grave é rara e ocorre com maior frequência com o agente CN, sendo o mais provável de ocorrer quando esses agentes são usados ​​em concentrações muito altas dentro de espaços confinados ou ambientes não ventilados.

Com base nas evidências toxicológicas e médicas disponíveis, CS e CR possuem uma grande margem de segurança para efeitos tóxicos potencialmente fatais ou irreversíveis.

Não há estudos bibliográficos a respeito de efeitos a longo prazo sobre a saúde das exposições de pessoas saudáveis ao CS ou CR, embora a contaminação com CR seja menos fácil de remover.

Crédito: Orlando Kissner/ANPr

FORMAS DE EXPOSIÇÃO, SINAIS E SINTOMAS

A maioria das exposições são por meio inalatório, ocular ou absorção dérmica e tipicamente levam a queixas de irritação nos olhos, nariz e garganta; tosse seca; sensação de asfixia ou asfixia; e dispneia … exposição em doses elevadas em um espaço fechado pode levar ao desenvolvimento de edema de via aérea, edema pulmonar não cardiogênico e, possivelmente, parada respiratória.

Sinais e sintomas imediatos de exposição a um agente anti-motim:

– Olhos: lágrimas excessivas, queimação, visão turva, vermelhidão;

– Nariz: corrimento nasal, queimação, inchaço;

– Boca: queimação, irritação, dificuldade em engolir;

– Pulmões: aperto no peito, tosse, sensação de asfixia, respiração ruidosa (sibilância), falta de ar;

– Pele: queimaduras, erupções cutâneas;

– Outros: náuseas e vômitos.

A exposição prolongada ou a exposição a uma grande dose de agentes lacrimogêneos, sobretudo em ambientes fechados e/ou confinados, podem gerar efeitos agudos graves, como os seguintes: cegueira, glaucoma (uma condição séria do olho que pode levar à cegueira), morte devido a queimaduras químicas na garganta e nos pulmões, insuficiência respiratória possivelmente resultando em morte … A exposição prolongada, especialmente em área confinada, pode levar a efeitos a longo prazo, como problemas oculares graves, incluindo cicatrizes, glaucoma e catarata e podem causar e/ou desencadear quadros de asma.

Se os sintomas desaparecerem logo que o indivíduo seja removido da exposição ao agente não letal, é pouco provável que ocorram efeitos a longo prazo da saúde.

Os efeitos causados pela CR são qualitativamente similares aos causados pelo CS, mas há uma diferença de potência de aproximadamente 5 vezes.

Por último,temos ainda o irritante respiratório aerossol de pimenta ou gás OC (Oleorresina Capsicum), ele também pode ser chamado de gás lacrimogêneo, que é um composto químico que também irrita os olhos e causa lacrimejo, dor e mesmo perda de visão temporária, mas deixaremos para abordar esse agente na próxima postagem.

O blog Emergência em Pauta trata do gerenciamento de emergências e segurança contra Incêndio e Pânico. O autor do blog é Marco Aurélio Nunes da Rocha, técnico em Segurança e em Petróleo e Gás. Graduado em Química e em Segurança, Licenciado em Biologia. Pós-Graduado em Gerenciamento de Crises, Emergências e Desastres, em Segurança e Higiene Ocupacional, em Toxicologia Geral e em Segurança contra Incêndio e Pânico. Especialista em Urgência e Emergência Pré-hospitalar. Professor de cursos de Pós-Graduação de Engenharia de Segurança, Medicina e Enfermagem do Trabalho, Engenharia de Prevenção e Combate a Incêndios, Defesa Civil, Gestão de Crises, Emergências e Desastres e APH Tático Militar e nos MBAs Executivos de Gerenciamento de Crises e de Safety e Security. Diretor do SINDITEST/RS.

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