Com importância indiscutível para o cálculo de estruturas, nos dias de hoje a carga de incêndio permeia, como referência, o perfil de risco das normas, com uso em diversos países, dentre eles o Brasil.
Mas é um vetor válido?
O perfil de risco, nas regulamentações, equivale a uma análise de risco expedita, que busca sintetizar em poucos elementos, o que um ambiente construído deve possuir para ser considerado seguro em situação de incêndio, seja para proteger a vida e evitar a conflagração, como objetivo do Poder Público, ou para os bens e a edificação, objetivo do proprietário e seguradoras, em ação negociada entre ambos.
Carga de incêndio é a soma das energias caloríficas possíveis de serem liberadas pela combustão completa de todos os materiais combustíveis em um espaço, inclusive os revestimentos das paredes, divisórias, pisos e tetos. Mas ela pode definir o risco?
De maneira simplificada diz-se que risco é o produto da probabilidade vezes a consequência.
A carga de incêndio mostra a resultante da queima, logo a consequência. Mas a probabilidade não é apontada. O fato de termos uma alta carga de incêndio pode produzir um risco zero se a probabilidade inexistir. Exemplo? Um reservatório de combustível ou inflamável enterrado. A carga de incêndio é alta, mas a probabilidade de se transformar em queima e produção de energia calorífica são praticamente nulas, enquanto esse combustível não deixar o reservatório.
Temos um número imenso de postos de combustíveis espalhados pelo mundo, com raros casos de incêndio, e nenhum nos reservatórios, que carecem de oxigênio para que ocorra a combustão. Alta carga de incêndio, baixo risco.
Imaginem um pátio com armazenamento de toras de madeira de grande diâmetro. Alta carga de incêndio em contato com o oxigênio do ar. Probabilidade de se iniciar uma combustão também quase nula.
Nas regulamentações, pelo uso simples da carga de incêndio, esses locais seriam de risco alto. Não está na hora de discutirmos o uso desse vetor?
O blog Falando de SCI (Segurança Contra Incêndios) trata dos incêndios e seus impactos na sociedade e de fundamentos e aspectos da regulamentação de segurança contra incêndio em geral. Seu autor é Walter Negrisolo, oficial da RR (reserva remunerada) do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar de São Paulo; Mestre em Arquitetura e Urbanismo e Doutor em SCI.
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