Definição, terminologia e classificação do afogamento

O desconhecido impacto que o afogamento representa para a Saúde Pública deve-se, em parte, à enorme falta de dados epidemiológicos e o correto e apropriado uso de terminologias. Em 2002, durante o I Congresso Mundial Sobre Afogamentos uma nova definição de afogamento e terminologia foi estabelecida em consenso e está em uso atualmente pela Organização Mundial de Saúde.3 O uso desta terminologia e definição permitirão quantificar melhor o tamanho do problema afogamento em todo mundo.

  • Afogamento é a “Aspiração de líquido não corporal por submersão ou imersão”.
  • Resgate é aPessoa socorrida da água, sem sinais de aspiração de líquido”.
  • Já cadáver por afogamento é amorte por afogamento (exclui situações de mal súbito dentro da água sem aspiração) sem chances de iniciar reanimação, comprovada por tempo de submersão maior que uma hora ou sinais evidentes de morte a mais de uma hora como rigidez cadavérica, livores, ou decomposição corporal”.

O afogamento ocorre em situações em que o líquido entra em contato com as vias aéreas da pessoa em imersão (água na face) ou por submersão (abaixo da superfície do líquido). Se a pessoa é resgatada, o processo de afogamento é interrompido, o que é denominado um afogamento não fatal. Se a pessoa morre como resultado de afogamento, isto é denominado um afogamento fatal. Qualquer incidente de submersão ou imersão sem evidência de aspiração deve ser considerado um resgate na água e não um afogamento. Termos como “quase afogamento” (near-drowning), “afogamento seco ou molhado”, “afogamento ativo e passivo” e “afogamento secundário (re-afogamento horas após o evento)” ou apenas “submersão” são obsoletos e devem ser evitados.

CLASSIFICAÇÃO DO AFOGAMENTO

Quanto ao Tipo de água (importante para campanhas de prevenção):

1 – Afogamento em água Doce: piscinas, rios, lagos ou tanques.

2 – Afogamento em água Salgada: mar.

3- Afogamento em água salobra: encontro de água doce com o mar.

4 – Afogamento em outros líquidos não corporais: tanque de óleo ou outro material e outros.

Quanto á Causa do Afogamento (identifica a doença associada ao afogamento):

1 – Afogamento Primário: quando não existem indícios de uma causa do afogamento.

2 – Afogamento Secundário: quando existe alguma causa que tenha impedido a vítima de se manter na superfície da água e, em conseqüência precipitou o afogamento: Drogas (36,2% – mais freqüente o álcool), convulsão, traumatismos, doenças cardíacas e/ou pulmonares, acidentes de mergulho e outras.

Usualmente a cãibra não se caracteriza como afogamento secundário já que não pode ser responsabilizada por um afogamento, como ex: nadadores, surfistas e mergulhadores enfrentam cãibras dentro da água com freqüência e não se afogam por esta razão.

Quanto á Gravidade do Afogamento (permite saber a gravidade e o tratamento)1

A Classificação de afogamento permite ao socorrista estabelecer a gravidade de cada caso, indicando a conduta a ser seguida. Foi estabelecido com o estudo de casos de afogamento no Centro de Recuperação de Afogados (CRA) de Copacabana e seu acompanhamento no Hospital Municipal Miguel Couto durante 20 anos. A classificação não tem caráter evolutivo, devendo ser estabelecida no local do afogamento ou no 1o atendimento, com o relato de melhora ou piora do quadro. O primeiro passo no entendimento do processo de afogamento é diferenciarmos entre um caso de Resgate e Afogamento.

Resgate: Vítima resgatada viva da água que não apresenta tosse ou espuma na boca e/ou nariz – pode ser liberada no local sem necessitar de atendimento médico após avaliação do socorrista, quando consciente. Todos os casos podem apresentar hipotermia, náuseas, vômitos, distensão abdominal, tremores, cefaléia (dor de cabeça), mal estar, cansaço, dores musculares, dor no tórax, diarréia e outros sintomas inespecíficos. Grande parte destes sintomas é decorrente do esforço físico realizado dentro da água sob stress emocional do medo, durante a tentativa de se salvar do afogamento.

Afogamento: pessoa resgatada da água que apresenta evidência de aspiração de líquido: tosse, ou espuma na boca ou nariz – deve ter sua gravidade avaliada no local do incidente, receber tratamento adequado e acionar se necessário uma equipe médica a prover suporte avançado de vida. (ver resumo da classificação e tratamento mais adiante)

Referências

1. Szpilman D, Bierens JJLM, Handley AJ, Orlowski JP. Drowning: Current Concepts. N Engl J Med 2012;366:2102-10. http://www.nejm.org/doi/pdf/10.1056/NEJMra1013317

2. Beck EF, Branche CM, Szpilman D, Modell JH, Birens JJLM, A New Definition of Drowning: Towards documentation and Prevention of a Global Health Problem; Bulletin of World Health Organization – November 2005, 83(11).


O blog Águas+Seguras trata dos temas ligados aos afogamentos. O responsável por este blog é David Szpilman, fundador, Ex-Presidente e atual Diretor Médico da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático – SOBRASA; Médico do município do Rio de Janeiro; Médico da reserva do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro, Grupamento de Socorro de Emergência; Membro da Comissão de Prevenção e da comissão Médica da Federação Internacional de Salvamento Aquático – ILS; Membro da Câmara Técnica de Medicina Desportiva do CREMERJ e Fundador da “International Drowning Research Alliance” – IDRA.
[email protected] e www.szpilman.com

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