Incêndios Florestais e Aquecimento Global

Todos aqueles que acompanham diariamente o noticiário nacional e internacional através dos principais meios de comunicação têm se deparado com imagens impressionantes de grandes incêndios florestais que estão ocorrendo em várias partes do mundo, principalmente no hemisfério norte. Todos sabemos que incêndios em florestas sempre ocorreram em função de diversos fatores, como as queimadas de vegetação nativa utilizadas na pecuária e na agricultura, acidentes envolvendo crianças brincando com fogo, turistas descuidados fazendo fogueiras para um acampamento provisório ou ainda atos criminosos que provocam os incêndios de maneira intencional. De acordo com o Ministério da Ecologia francês, o país tem em média 4 mil incêndios florestais por ano, sendo 90% provocados por atividade humana, geralmente por desconhecimento dos riscos ou imprudência; desse total 10% são criminosos.

Mas os incêndios florestais podem também ocorrer devido a causas naturais. A queda de um raio sobre uma vegetação seca pode provocar um incêndio localizado, mas que na presença de ventos fortes, baixa umidade do ar e da topografia do terreno, pode rapidamente se espalhar de forma a atingir grandes áreas de vegetação e até zonas habitadas. Vale lembrar que na maioria dos casos, os raios ocorrem durante o período de chuvas que podem dificultar a propagação do fogo.

Os incêndios florestais se caracterizam por um fogo intenso fora de controle, capaz de produzir graves danos ao meio ambiente pela destruição da vegetação nativa, liberação de grande quantidade de fumaça com gases tóxicos, além de provocar a morte de muitos animais selvagens. Quando ocorrem nas proximidades de áreas habitadas podem destruir casas e outras instalações, causar a morte de animais domésticos e colocar em risco a vida de pessoas, que por qualquer razão não tenham sido evacuadas a tempo; ou ainda provocar sérios acidentes rodoviários por falta de visibilidade nas estradas ocasionada pela fumaça intensa. Aviões e helicópteros utilizados no combate a incêndios também já sofreram acidentes, bem como outros veículos, voluntários e bombeiros que foram cercados pelas chamas em função da mudança repentina de direção dos ventos. O tipo de vegetação também pode influenciar na propagação do fogo. Algumas plantas produzem óleos que atuam como combustível, aumentando a disseminação das chamas. Nos períodos de calor intenso, nos quais aumentam as emissões de radiações UV, pode ocorrer a ignição espontânea da vegetação seca produzindo fogo, sem intervenção humana. Os grandes incêndios florestais podem provocar a morte de muitas pessoas, mas o calor intenso, nas áreas urbanas, produz um número bem maior de vítimas. Neste verão europeu já perderam a vida, por excesso de calor, mais de 1.700 pessoas, segundo o escritório europeu da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os mais vulneráveis são os bebês, as crianças e os idosos.

O verão no hemisfério norte, neste ano, vem apresentando temperaturas muito elevadas, bem acima das médias de verões anteriores naqueles países, superando recordes de séculos. Portugal, Espanha, Reino Unido, França e Estados Unidos têm sido submetidos a temperaturas que ultrapassam os 40ºC e que têm causado mortes por calor e incêndios florestais. No dia 16 de julho deste ano, a agência de meteorologia francesa, a Météo France, divulgou um mapa mostrando temperaturas acima da média em todo o território francês, que variavam dos 32ºC até valores extremos para os padrões franceses, de 42ºC. É o que eles chamam de canicule ou onda de calor. Os especialistas atribuem essas altas temperaturas às mudanças climáticas e a tendência é de elevação na próxima década. A climatologista Françoise Vimeu, do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento, não descarta temperaturas em torno de 50°C em futuro próximo. O efeito dessas temperaturas elevadas sobre a população europeia é bastante danoso, uma vez que esses países, acostumados com o frio, não possuem as estruturas de minimização dos efeitos do calor, como nos países de clima quente. As habitações são pouco ventiladas, com os telhados revestidos de material escuro que absorve calor e há  quase total ausência de aparelhos de ar-condicionado nas residências, as quais possuem apenas os clássicos aquecedores.

Na mesma semana de julho, o Brasil também apresentou temperaturas bem elevadas para a estação do inverno, conforme apresentado no mapa do Instituto Nacional de Meteorologia. Apesar dos brasileiros já estarem bem acostumados com o calor e o uso de ventiladores ou aparelhos de ar-condicionado ser comum em nossas residências, com moradias bem adaptadas para temperaturas altas, vale lembrar que as médias acima de 40ºC ocorrem no verão, geralmente nos meses de dezembro a fevereiro e com duração de alguns dias, sendo logo amenizadas pelas fortes chuvas tropicais, também comuns no verão do país. E dado o que vem ocorrendo no hemisfério norte neste ano, é de se esperar temperaturas extremamente elevadas no próximo verão, agora no hemisfério sul. Então precisamos nos preparar para o enfrentamento de grandes incêndios florestais, tanto em recursos humanos quanto equipamentos e principalmente estabelecer os protocolos de saúde pública necessários para reduzir os riscos de mortes por calor junto às nossas crianças e idosos.

Como dito anteriormente, 90% dos incêndios florestais são ocasionados por ação humana daí a grande importância da prevenção por parte da população. Além de evitar as práticas já citadas, não coloque fogo em lixo e nem solte balões. Esta semana, um cidadão norte americano de 26 anos foi preso em Utah por provocar um grande incêndio florestal ao queimar uma aranha com um isqueiro na mata. Proteja as nossas florestas e a nossa população.


O blog Proteja-se trata de segurança humana de uma forma geral, pois nenhum sistema de proteção civil do mundo consegue garantir a total segurança do indivíduo sem que o mesmo adote procedimentos de autoproteção. O blog quer ajudar a desenvolver no Brasil a cultura da autoproteção. O autor do blog é Airton Bodstein, Doutor em Química Ambiental pela Université de Rennes I, França e Pós-doutorado na Oregon State University, EUA. Fundador do Mestrado em Defesa e Segurança Civil e Professor Titular da Universidade Federal Fluminense. 
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