Segurança de Processo X Segurança Ocupacional – Parte 1

Nesta postagem abordarei um assunto muito técnico, especifico e até certo ponto desconhecido da maioria dos profissionais de segurança do trabalho, que é a SEGURANÇA DE PROCESSO.

Esse é um tema de suma importância para as salvaguarda da vida humana, preservação do meio ambiente, proteção das instalações e continuidade operacional do negócio das empresas, uma vez que, mesmo sendo menos provável sua ocorrência (< frequência) podem gerar impactos e consequência mais graves se ocorrerem (> severidade), uma vez que um único evento pode afetar diversos cenários e áreas distintas, com perdas de vidas, prejuízos à saúde financeira da corporação, perda da continuidade operacional do negócio e do valor de mercado da empresa além dos impactos ambientais e sociais.

HISTÓRIA, CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Os grandes acidentes de processo ocorridos, geraram mudanças e avanços significativos na regulamentação, legislação e  produção científica sobre segurança de processo a nível mundial. Sabemos que muitos acidentes ampliados ocorreram no decorrer da história, como o ocorrido em Seveso na Itália, em 1976, onde a liberação de nuvem tóxica de dioxina acabou atingindo uma área habitada de Seveso. Sendo esse evento responsável pela criação das diretivas de Seveso, as quais tratam dentre tantas questões importantes as relativas a evacuação e retirada de pessoas do local da emergência.

Da mesma forma, o acidente ocorrido em Bhopal em 1984, acidente esse considerado até hoje como o pior acidente da indústria química mundial, onde cerca de 40 toneladas de isocianato de metila foi liberada, causando inicialmente a morte de três mil pessoas e segundo estimativas, chegando a 20 mil mortes e mais de 150 mil contaminados, dando origem ao Center for Chemical Process Safety – CCPS, que é um centro de publicações sobre segurança de processo, o qual nos deu inclusive subsídios para escrever essa publicação.

No que se refere a conceitos e definições envolvendo o tema segurança de processo, temos achados diferentes nas mais diversas bibliografias, mas para entendimento inicial iremos trabalhar com os abaixo expostos:

Segurança do trabalho / ocupacional:

A Segurança do Trabalho corresponde ao conjunto de ciências e tecnologias empregadas com o objetivo de proteger o trabalhador em seu ambiente de trabalho, buscando evitar e/ou minimizar acidentes de trabalho, doenças ocupacionais e outras formas de agravo à saúde do trabalhador, protegendo sua integridade e capacidade para o trabalho, inclusive.

Segurança de Processo:

Podemos defini-la como prevenção, mitigação e resposta a eventos de perdas de contenção primária de hidrocarbonetos e de outros produtos perigosos, os quais podem causar efeitos tóxicos, incêndios e explosões, e resultar ainda em lesões pessoais, danos materiais, perda de produção ou impactos socioambientais.

Acidentes industriais ampliados maiores:

Os acidentes ampliados ou acidentes maiores são eventos de maior gravidade, suas consequências se estendem a um número maior de pessoas, além dos trabalhadores, extrapolam os muros da unidade e ocasionam problemas de saúde futuros ou imediatos para a população, incluindo ainda danos ambientais.

A Organização Internacional do Trabalho – OIT, através da Convenção sobre a Prevenção de Acidentes Industriais Maiores (Convenção 174), define Acidente Ampliado como todo evento subitâneo, como emissão, incêndio ou explosão de grande magnitude, no curso de uma atividade em instalação sujeita a riscos de acidentes maiores, envolvendo uma ou mais substâncias perigosas e que implica grave perigo, imediato ou retardado, para os trabalhadores, a população ou o meio ambiente.

Perda de contenção primária:

A perda de contenção primária é a liberação não planejada ou não controlada de hidrocarbonetos ou outros produtos perigosos para fora da sua contenção primária, que pode ser um tanque, vaso, linha ou outro equipamento projetado para servir de primeira contenção do produto, ainda que a liberação seja direcionada às instalações projetadas para servir como contenção secundária tais como bacias de contenção, diques, etc.

Produto e/ou substância perigosa:

Dependendo o organismo ou entidade, essa definição poderá divergir, mas no que tange a segurança de processo e acidentes ampliados, produto perigoso é qualquer substância que possa causar danos devido   às suas propriedades fisico/químicas, tais como inflamabilidade, corrosividade, reatividade, pressão e temperatura. Já a expressão “substância perigosa” designa toda substância ou mistura de substâncias que, em razão de suas propriedades químicas, físicas ou toxicológicas, isoladas ou combinadas, constitui um perigo (Convenção 174 da OIT).

Camadas de proteção:

Podemos defini-las como sistemas, barreiras ou salvaguardas que visam evitar a ocorrência de acidentes, ou seja, evitar a perda de contenção primária (vazamento/derramamento) ou ao menos minimizar seus efeitos (impactos e consequências). Podendo ser um sistema físico, um sistema de gestão ou de controle de emergência.

As camadas de proteção para serem consideradas como independente, a salvaguarda deve cumprir alguns requisitos dentre eles:

  • Ser efetiva, prevenindo ou contendo a consequência de acordo com o planejado;
  • Ser independente, com o seu funcionamento não dependendo de um evento iniciador ou da ação de outra camada de proteção associada ao cenário;
  • Disponível, atuando sempre que for necessária;
  • Ser auditável, permitindo desta forma o monitoramento de seu funcionamento e efetividade.

DIFERENÇA ENTRE SEGURANÇA DE PROCESSO E OCUPACIONAL

É importante compreender que mesmo que tenham objetivos e metas próximas e similares, a Segurança do Trabalho (Ocupacional) difere da Segurança de Processos.

Riscos pessoais, tais como quedas, cortes, lacerações e queimaduras geram efeitos na maioria das vezes em um único trabalhador, já os riscos oriundos dos acidentes de processo, podem dependendo do cenário e das particularidades, gerar acidentes maiores, envolvendo liberação de materiais e/ou produtos com alto potencial de dano, incêndios e explosões. Por isso, os incidentes de segurança de processo podem ter efeitos desastrosos e até mesmo catastróficos, já que podem resultar em múltiplos ferimentos e mortes, assim como danos à economia, à propriedade e ao meio ambiente. Além do que, diferente dos acidentes de trabalho, os de segurança de processo podem causar danos tanto aos trabalhadores no interior de uma unidade (intramuros), como ás pessoas da comunidade do entorno (extramuros).

Desta forma, pelas diferenças entre segurança ocupacional e segurança do processo, não devem esses assuntos serem tratados da mesma forma, isso é certo.

Podemos dizer que na segurança de processo, além dos fatores humanos, há uma preocupação com a fase de projeto, engenharia das instalações, análise de perigos e riscos, investigação de incidentes de processo, gestão de mudanças, inspeção, testes e manutenção dos equipamentos.

Podemos destacar segundo James Reason algumas diferenças relevantes entre segurança de processo e segurança ocupacional,  conforme exposto abaixo:

A segurança der processo é relacionada a acidentes organizacionais, que, por sua vez, possuem as seguintes características:

  • Eventos mais raros (menos prováveis).
  • Ocasionados por múltiplas causas, envolvendo várias pessoas em diferentes níveis de organização.
  • Efeitos com maior gravidade (maior severidade) e que se propagam.

Já a segurança ocupacional é relacionada a acidentes individuais (pessoais), que, por sua vez, possuem as seguintes características:

  • Mais numerosos (mais prováveis).
  • Envolvem uma pessoa ou um pequeno grupo de pessoas, que são, simultaneamente, agentes e vítimas de acidentes.
  • As consequências para essas pessoas podem ser severas, mas a propagação dos efeitos é limitada (menos grave).
  • Na maioria das vezes esses eventos que têm pouca ou nenhuma relação com as atividades de processamento da planta industrial.

Este texto continua no próximo post do blog… nele será tratado sobre a importância das camadas de Proteção na Segurança de Processo, Sistema de Gestão de Segurança de Processo, além das considerações finais sobre o assunto. Fique ligado!


O blog Emergência em Pauta trata do gerenciamento de emergências e segurança contra Incêndio e Pânico. O autor do blog é Marco Aurélio Nunes da Rocha, técnico em Segurança e em Emergências Médicas. Graduado em Química e em Segurança, Pós-Graduado em Gerenciamento de Crises, Emergências e Desastres, em Segurança e Higiene Ocupacional, em Toxicologia Geral e em Segurança contra Incêndio e Pânico. Especialista em Urgência e Emergência Pré-hospitalar. Professor de cursos de Pós-Graduação de Engenharia de Segurança do Trabalho, Engenharia de Prevenção e Combate a Incêndios, Defesa Civil, Gestão de Crises, Emergências e Desastres e APH Tático Militar e nos MBAs Executivos de Gerenciamento de Crises e de Safety e Security. Diretor do SINDITEST/RS.
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