Segurança de Processo X Segurança Ocupacional – Parte 2

Em continuidade ao texto ‘Segurança de Processo X Segurança Ocupacional – Parte 1‘, que tratou sobre história, conceitos, definições, além da diferença entre Segurança de Processo e Operacional, nesta segunda parte será tratado sobre a importância das camadas de proteção na segurança de processo, o Sistema de Gestão de Segurança de Processo, além das considerações finais sobre o tema. Confira abaixo:

IMPORTÂNCIA DAS CAMADAS DE PROTEÇÃO NA SEGURANÇA DE PROCESSO

Na segurança de processo os acidentes e/ou incidentes raramente são causados por uma única falha catastrófica, mas sim por múltiplos eventos ou falhas que são coincidentes. Por isso a importância de se implementar de forma adequada e realizar o monitoramento das camadas de proteção visando a redução do risco da ocorrência desses eventos (incidentes e/ou acidentes).

A figura abaixo ilustra os conceitos das camadas de proteção, onde para que seja causado um dano, várias falhas devem ocorrer nos diferentes elementos implementados do sistema de gestão de segurança de processo.

Segundo a teoria do queijo suíço, cada fatia do queijo é uma camada preventiva, ou salvaguarda e cada furo é uma falha, muitas vezes desconhecida, dessa camada. Portanto, é o alinhamento das falhas que permite o acidente, mas se apenas uma das camadas de proteção estiver funcionando, será suficiente para evitar o acidente.

Nos diversos estudos realizados, observou-se que os acidentes geradores de grandes perdas, na maioria das vezes ocorreram devido às falhas simultâneas de sistemas ou barreiras da gestão de segurança de processo e nenhum a principio, foi gerado por falha de uma única barreira de proteção.

Segundo o CCPS, as cinco primeiras camadas de proteção (camadas preventivas) atuam na redução da frequência dos eventos, ou seja, reduzem a probabilidade de ocorrência dos acidentes. Na primeira camada, temos o projeto do processo, integridade da instalação, posteriormente temos os controles do processo, os alarmes críticos e a intervenção humana, o intertravamento de segurança, e por último a proteção física e os dispositivos de alívio (PSVs).

Já, as últimas camadas (camadas mitigadoras), atuam na redução / minimização dos impactos e consequências, ou seja, caso o evento ocorra, os efeitos serão minimizados (mitigados) ou até mesmo suprimidos (eliminados).

Nessas camadas (mitigadoras) é onde se encontram os sistemas de proteção pós-liberação, como os diques e bacias de contenção, canaletas de drenagam e direcionamento, sistema de detecção de fogo, chuveiros automáticos e/ou dilúvios, o sistema de resposta à emergência da unidade como a estrutura organizacional de reposta (EOR), brigadas de emergência, equipamentos de controle de incêndio como extintores, hidrantes, canhões fixos e móveis, veículos de combate a incêndio, etc…

Por isso as salvaguardas identificadas em análises de risco (Hazop, APP, What if, etc) e aquelas confirmadas nos cenários críticos avaliadas, que sejam definidas como camadas independentes de proteção, devem ser adequadamente gerenciadas por todo o ciclo de vida da instalação, tendo em vistas a obtenção de confiabilidade e funcionalidade, objetivando desta forma minimizar a possibilidade de ocorrência de acidentes de processo.

SISTEMA DE GESTÃO DE SEGURANÇA DE PROCESSO

A Segurança de Processo deve fazer parte do sistema de Gestão de Segurança Integrada das empresas, por isso deve ser dado ênfase e a devida importância às preocupações com os riscos de grandes impactos aos seres humanos, a segurança, a possíeveis danos ao meio ambiente e aos prejuízos materiais e financeiros das corporações.

O sistema de sistema de gestão de segurança de processo deve ser focado na prevenção, prontidão, mitigação e rápida resposta, bem como na restauração da perda de contenção primária dos produtos perigosos. Esse sistema de gestão utiliza a estratégia proposta pelo Center for Chemical Process Safety – CCPS, de forma a concentrar recursos nos riscos e perigos maiores, ou seja, deve ser priorizados riscos e concentrados os  recursos para esses riscos. Mas para que isso ocorra de forma adequada, primeiramente se faz necessário conhecer e compreender todos os riscos.

Para isso, pode se usar como base as perguntas abaixo:

  • O que pode dar errado?
  • Com que frequência podem acontecer os erros?
  • Se ocorrerem, qual será a gravidade das consqueências?

Se compreendermos e respondermos corretamente as perguntas acima, ficará mais fácil decidir quais ações devem ser tomadas para a eliminação, redução ou controle dos riscos, além do direcionamento dos recursos de forma adequada e mais assertiva.

As diretrizes para implantar e usar um sistema de gestão baseado em risco, proposto pelo CCPS, foram criadas para promover a excelência em gestão de segurança de processo frente aos desafios e desempenhos do sistema de gestão por pressão de recursos e resultados ineficientes. Por isso, de acordo com o CCPS, falhas no sistema de gestão representam uma das categorias de causas de acidente de processo. E se não forem tratadas a contento, essas falhas de gestão permanecerão latentes, podendo contribuir para ocorrências futuras de novos eventos. Por isso, é muito importante que a gestão de segurança de processo seja implantada e mantida para, assim, gerar benefícios reais para a organização, como a prevenção de ocorrências dos grandes acidentes de processo, melhoria na qualidade e aumento de produtividade, continuidade operacional do negócio, gerando inclusive, melhoria da imagem da empresa e fortalecimento da confiança dos clientes (internos e externos).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As práticas de Segurança de Processo e os Sistemas de Gestão de Segurança estão implantados e sendo utilizados por algumas corporações, há muitos anos. Porém, muitas vezes, devido à maior frequência e facilidade na avaliação das lesões dos trabalhadores, os esforços, preocupações e recursos das empresas são desproporcionais, focando em segurança do trabalho ou ocupacional ao invés da segurança de processo. Só que as expectativas dos entes e da sociedade como um todo no que tange à segurança estão aumentando de forma gradual e constante. Por isso, como forma de atender essas expectativas, devem ser incorporados padrões de melhoria contínua referentes à segurança, saúde e políticas ambientais claras e atuais, assim como as práticas já adotadas em sistemas de qualidade e produtividade, por exemplo.

A Segurança de Processo é um assunto já abordado há tempos pelas empresas das áreas petroquímicas e petrolíferas, mas ainda incipiente nas demais atividades econômicas. Por isso deve a cultura de segurança de processo ser internalizada e reforçada, a HSE5, define cultura de segurança como sendo o conjunto de valores individuais e de grupo, atitudes, percepções, competências e padrões de comportamento que determinam o compromisso e a competência referentes à saúde e segurança de uma organização.

Por fim, podemos dizer que a implantação de um sistema de gestão de segurança não deveria ser vista apenas como uma conformidade legal, mas sim como uma boa prática na busca da redução e/ou minimização de impactos aos seres humanos, ao meio ambiente e à sociedade como um todo.

REFERÊNCIAS

AIChE/CCPS, Beacon: O que é Risco de Processo? Disponível em: <https://www.aiche.org/sites/default/files/2015-01-Beaconportuguese%20Brazil29.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2021. 

HSE; A Guide to measuring Health & Safety Performance, 2001. Disponível em: <https://www.hse.gov.uk/opsunit/perfmeas.pdf>. Acesso em 3 jun. 2021.

HSE; Developing process safety indicators: a step-by-step guide for chemical and major hazard industries, 2006. Disponível em:  <https://www.hse.gov.uk/PuBns/priced/hsg254.pdf>. Acesso em 3 jun. 2021.


O blog Emergência em Pauta trata do gerenciamento de emergências e segurança contra Incêndio e Pânico. O autor do blog é Marco Aurélio Nunes da Rocha, técnico em Segurança e em Emergências Médicas. Graduado em Química e em Segurança, Pós-Graduado em Gerenciamento de Crises, Emergências e Desastres, em Segurança e Higiene Ocupacional, em Toxicologia Geral e em Segurança contra Incêndio e Pânico. Especialista em Urgência e Emergência Pré-hospitalar. Professor de cursos de Pós-Graduação de Engenharia de Segurança do Trabalho, Engenharia de Prevenção e Combate a Incêndios, Defesa Civil, Gestão de Crises, Emergências e Desastres e APH Tático Militar e nos MBAs Executivos de Gerenciamento de Crises e de Safety e Security. Diretor do SINDITEST/RS.
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