Técnicas de combate a incêndio interior (estrutural) – 2ª Parte

Dando seguimento ao conteúdo publicado na versão anterior do blog, abordaremos agora as técnicas de combate a incêndio chamadas de combinadas e/ou especiais.

Apresentaremos apenas um resumo direcionado sobre o tema, haja vista ser o mesmo muito amplo e técnico, desta forma, tentarei despertar o interesse de vocês para que busquem novas publicações estudos e matérias sobre o tema, visando disseminar essas técnicas tão importantes de controle de incêndios interiores, mas ainda pouco difundidas em nosso país.

TÉCNICA DO ATAQUE COMBINADO E ESPECIAIS (ZOTI e 3DWF)

Importante falarmos que essas técnicas estão muitas vezes relacionadas aos chamados incêndios de rápido progresso (rapid fire progress), que segundo a National Fire Protection Association (NFPA) é todo incêndio que se desenvolve rapidamente a partir de fenômenos conhecidos, tais como o flashover, o backdraft e outros similares.

Ataque Combinado

O ataque combinado é um método de combate a incêndio estrutural realizado em ambientes superaquecidos, onde é empregado o uso de jato neblinado e variações visando gerar vapor de água (jatos atomizados). Pode ser usado também em combinação com o ataque direto através de jato (compacto) atingindo a base das chamas. Ele (ataque combinado) também é um tipo de ataque indireto, já que como dissemos age pela geração de vapor, abafando e resfriando.

Durante a execução da técnica, o operador deve manter o esguicho entre 30° a 60°, movimentando o jato de forma a descrever um círculo atingindo o teto, o piso, a parede oposta e novamente o teto. O ataque combinado consiste basicamente na geração de vapor de água associada ao ataque direto à base dos materiais incendiados, devendo o jato ser movimentado de forma que alcance o teto, a parede e o piso. É uma técnica recomendada na fase de propagação do incêndio.

A técnica consiste em 3 (três) movimentos típicos formando letras: “T”, em “Z” e “O”, variando de acordo com o tamanho da edificação. Deve-se aplicar o jato com vazão média de 125 LPM e grau de abertura em torno de 30º, formando assim a respectiva letra conforme o tamanho do ambiente sinistrado.

Para um ambiente de aproximadamente 30 m², usa-se a letra Z (mais longa), iniciando pelo alto (teto) e indo até próximo do solo (piso).

Para um ambiente de aproximadamente 20 m², usa-se a letra O. E para edificação de cerca de 10 m², usamos o T. Podemos usar ainda emcorredores, jatos no formato da letra I.

Fonte: ENB – Sintra 2005

Podemos dizer que formar uma das letras acima descritas, nada mais é que uma forma de cobrir todas as superfícies do ambiente e ao mesmo tempo limitar a quantidade de água aplicada. Mas para isso, a execução de cada letra deve durar no máximo 2 segundos, e como já dissemos, começando no alto, molhando o teto do ambiente, continuando até atingir as paredes e terminando pouco antes de alcançar o piso (chão).

Depois de aguardar por cerca de 30 segundos, repete-se o procedimento até a extinção completa do fogo.

O ataque tridimensional (técnica 3DWF)

Essa técnica faz referência à aplicação da variação do jato em forma de neblina em pulsos rápidos e controlados (atomizados), onde o tamanho das partículas de água dispersada é crucial para a eficácia da manobra.

O ataque tridimensional com agua em forma de jato atomizado tem por objetivo vaporizar água dentro da camada de fumaça aquecida, não sendo necessário desta forma chegar ao teto e paredes como na técnica TZO e/ou ZOTI. O intuito dessa técnica associada ao uso do jato neblinado é diminuir a massa de vapor ou gases inflamáveis, aumentando assim a possibilidade de visualização do ambiente interior e, melhorando as condições de visibilidade e temperatura.

Podemos dizer desta forma que o ataque tridimensional pode agir na camada de fumaça através de três mecanismos: diluição, resfriamento e diminuição do volume.

A diminuição do volume está relacionada ao resfriamento. Essa forma (técnica) pode ser utilizada (defensivamente) como forma de evitar os efeitos de incêndios de progressão rápida (ignição súbita generalizada, Ignição explosiva, ignição dos gases do incêndio).

O termo tridimensional faz referência aos mecanismos de volume da combustão na fase gasosa ou tridimensional e as aplicações associadas de água. Para a aplicação dos jatos de água neblinados de curta duração, também chamados de pulsações, existem três técnicas de pulsar água, pulsações curtas, pulsações médias e pulsações longas com varredura.

Nesse método em especial, a área envolvida pelo fogo, em cada edificação, não pode ultrapassar 70 m², pois pode ser que o ataque tridimensional não proporcione estabilização suficiente para a presença e atuação dos combatentes com segurança.

A área de controle pelo ataque tridimensional (3DWF) fica restrita / limitada ao alcance do jato e ao tempo durante o qual a fumaça ficará resfriada, que dependerá da intensidade do incêndio e do tamanho da edificação. O 3DWF é um método de ataque que funciona muito bem, podendo ser usado na maioria das situações de incêndios interiores, só que para isso, tem que ser treinado e dominado para que seja adequadamente executado.

Pelo que abordamos até aqui, fica claro que nenhum método único será capaz de extinguir um incêndio que se apresente a partir de uma combustão bi e/ou tridimensional (fase combustível e fase gasosa) com efeitos ótimos.

Portanto, de forma geral, o ataque ideal para um incêndio interior deve alternar sempre que possível entre ataque tridimensional com resfriamento dos gases (3DWF) e ataque direto. Não esquecendo que o uso do ataque indireto deve ser considerado somente sob certas condições muito especiais (incêndios controlados por falta de ventilação).

Para resumir as técnicas, apresento o quadro comparativo abaixo:          

Fonte: Adaptado pelo Autor

REFERÊNCIAS

  • LAYMAN, Lloyd. Attacking and extinguishing interior fires. Boston: National Fire Protection Association, 1960.
  • IFSTA. Essencials of fire fighting, 4ed. Oklahoma State University: 1999
  • GRIMWOOD Paul e DESMET Koen. Tactical Firefighting: A Comprehensive Guide To Compartment Firefighting & Live Fire Training (CFBT). 2003.
  • OLIVEIRA, Marcos de. Manual de Estratégias, táticas e técnicas de combate a incêndios estruturais. Florianópolis: 2005.
  • Manual Técnico do Corpo de Bombeiros da PMSP. Combate a Incêndio em Local Confinado. São Paulo: 2006.
  • Manual Básico de Combate a Incêndio do CBMDF. Técnicas de Combate a Incêndio. 2ª edição. Brasília: 2013.
  • GUERRA, Rodrigo André Miño. Os Benefícios na Utilização do Jato Neblinado no Combate a Incêndio Urbano pelas Guarnições de Incêndio no Município de Goiânia. Curso de Formação de Oficiais, Goiânia: 2013.

O autor do blog é Marco Aurélio Nunes da Rocha, técnico em Segurança e em Petróleo e Gás. Graduado em Química e em Segurança, Licenciado em Biologia. Pós-Graduado em Gerenciamento de Crises, Emergências e Desastres, em Segurança e Higiene Ocupacional, em Toxicologia Geral e em Segurança contra Incêndio e Pânico. Especialista em Urgência e Emergência Pré-hospitalar. Professor de cursos de Pós-Graduação de Engenharia de Segurança, Medicina e Enfermagem do Trabalho, Engenharia de Prevenção e Combate a Incêndios, Defesa Civil, Gestão de Crises, Emergências e Desastres e APH Tático Militar e nos MBAs Executivos de Gerenciamento de Crises e de Safety e Security. Diretor do SINDITEST/RS.

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