Crédito: Beto Soares/Estúdio Boom

Como a privação do sono compromete a qualidade de vida e de trabalho dos profissionais de atendimento pré-hospitalar

Segundo V. H. da S. Martins et al., a saúde ocupacional possui a finalidade de promover condições laborais para garantir um elevado grau de qualidade de vida no trabalho, protegendo a saúde do trabalhador, promovendo o bem-estar físico, mental e social, prevenindo e controlando os acidentes e as doenças por meio da redução das condições de risco.

Contudo, existem profissões que se deparam com inúmeras adversidades em todos os níveis, sendo um desafio para as organizações definirem um padrão e buscarem melhorias. É o caso das atividades de Segurança Pública, em que os serviços prestados obedecem a uma ordem ininterrupta de atividades e seus agentes ficam expostos aos mais diversos tipos de risco.

A falta de um descanso apropriado pode gerar acúmulos no organismo e as atividades desempenhadas pelo profissional ficam comprometidas, como é o caso dos que experimentam a privação do sono. As consequências de se permitir que um trabalhador exausto assuma suas atividades, vão muito além da baixa produtividade e seus impactos econômicos para a organização. A probabilidade desse trabalhador sofrer acidentes, colocando em risco sua vida e a dos demais, é proporcional ao lapso de atenção que pode sofrer devido ao cansaço extremo.

Muitas organizações que empregam milhares de pessoas no mundo esquecem que além de suas funções operacionais, os trabalhadores possuem funções sociais que são de extrema importância para a formação do indivíduo, preservando seu convívio com a família e sociedade.

Assim, estudos sobre as cargas horárias dos trabalhadores da sociedade atual, em consonância com suas tecnologias, permitem buscar novas visões sobre a qualidade de vida no trabalho, aliando a elas um estado de bem-estar dentro e fora da organização.
Este trabalho tem como objetivo analisar os agentes e as atividades desenvolvidas no APH (Atendimento Pré-Hospitalar), considerando rotinas e riscos ocupacionais a que esses profissionais estão expostos quando sob efeito da privação de sono. Também procura caracterizar e correlacionar a privação de sono com os riscos ocupacionais experimentados pelos profissionais envolvidos no APH e seus efeitos na vida laboral dos profissionais.

PRIVAÇÃO DO SONO
O sono ocorre, em sua maioria, independente da vontade do indivíduo, devido à produção do neuro-hormônio melatonina produzido pela glândula pineal. A maior produção deste hormônio é identificada no período das 00 horas às 06 horas da manhã, possuindo pico de produção entre as 02 e 03 horas da manhã. No período da tarde, a maior produção é observada entre 12 e 18 horas, com maior intensidade entre 14 e 15 horas, quando o indivíduo sente sonolência pelo mesmo mecanismo, ao ingerir carboidratos, após um banho morno prolongado e também pela exposição a raios solares, explica Dirceu Rodrigues Alves Júnior.

Conforme o autor, a importância do sono é que quando o indivíduo está dormindo, o organismo regula o sistema imunológico hormonal e recompõe neurotransmissores, sendo uma necessidade básica. O sono ainda pode determinar o sucesso diurno do indivíduo devido à melhora de humor, atenção, energia, raciocínio, produtividade, segurança, saúde e longevidade.


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Autores:

Rui Bocchino Macedo – Mestre em Planejamento e Governança Pública – Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Rafael Cavali Rodrigues – Acadêmico de Engenharia de Segurança do Trabalho – Universidade Tecnológica Federal do Paraná e cabo do Corpo de Bombeiros do Paraná
[email protected]


Confira o artigo completo na edição de ago/out/23 da Revista Emergência.

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